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Exercício de escrita

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08.11.22

Primeiro estavam a chegar ideias como pessoas às finanças logo de manhã a ver se arranjam senha. Eu com a pequena ao colo, incapacitada de anotar em papel ou no telemóvel. É sempre assim, as besteiras que escrevo começam a escrever-se na minha cabeça nas alturas menos oportunas. Mas tarde, depois de resolvida a questiúncula doméstica, sento-me para transformar éter em conteúdo e tudo o que lá está já se esfumou. Eu incapaz de voltar à sequência de palavras que me estava a soar tão bem, isto quando ainda me lembro do tema.

Há dias ocorreu-me uma ideia para uma história. Apontei à pressa os traços principais. Tudo no bloco de notas do telemóvel, sentada na sanita. Matutei onde havia de arranjar tempo para tal empreitada. Estar em casa com uma bebé dá – aos outros – a ilusão de que o tempo sobra, de que se conseguem criar rotinas para ter um tempinho para isto e outro para aquilo, mas a realidade é que estou sob o jugo de uma patroa implacável, que até interfere com as minhas idas à casa de banho.

Pus de parte a ideia quando percebi que, sem cabeça e disponibilidade, não conseguiria dedicar-me a fazer uma coisa com qualidade, tive uma daquelas conversas existenciais comigo mesma e conclui que há tempo para tudo e quando for tempo disso, tenho de pôr falangetas ao trabalho.

Arrumado esse assunto ocorreu-me fazer de Miguel Esteves Cardoso, não na qualidade da escrita, porque isso por mais feijões que coma não lá chego (mesmo que inclua a ingestão da lata), mas na periodicidade. Há anos que o MEC escreve diariamente para o Público. É exercício de escrita, é desabafo, é uma forma de pôr um pé no mundo onde circulam pessoas crescidas que não me gritam para lhes trocar a fralda ou dar mama.

Serve assim a presente missiva para dizer que tentarei (pelo tom até parece que alguém me pediu) escrever (e publicar) um post por dia, ao final da manhã. Sobre o quê não sei. Prova disso é que queria começar o primeiro com uma coisa inteligente e depois saiu isto. Até quando também não me ocorre, mas se chego aos 40 sem uma legião de seguidores, que fazem tudo o que eu digo, clamam por mim e já não conseguem viver sem ler o que escrevo, sou pessoa para fechar a barraca.  

 

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