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Exercício de escrita

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18.01.23

Esclareço o meu filho à razão de sete vezes por semana que, se eu lhe aplicasse uns ajustes educacionais de teor artesanal como aqueles que se admistravam aos petizes no meu tempo, ele acharia muito menos piada ao que eu digo e andava direito e fininho sem levantar cabelo. Mas os tempos evoluíram - ou assim se acredita - e as crianças, que antigamente faziam o que lhes era dito porque lhes era dito e pchiu, senão ainda levavam um abre alhos, andavam nas suas vidas certos e sabidos das linhas com que se cosiam.
As crianças em princípio não tinham sentimentos, a menos que sentissem uns piparotes motivacionais. Não havia fadas, nem duendes, nem dragões dos dentes. Quando caía um dente a única coisa que a gente ganhava era o dente novo quando nascesse. O meu filho, quando sente um dente a abanar, começa a fazer contas ao guito que a "fada" pode trazer.
As crianças não tinham opinião nos assuntos dos adultos e se queriam ser crescidos podiam começar por pôr a mesa e lavar a loiça.
A minha mãe não me explicava que o ferro podia queimar e depois blá-blá-blá. Dizia-me: não mexas nisso que queima. Só. E se depois eu insistisse despachava o assunto com o infalível: se te queimares ainda levas por cima.

Não sou defensora dos métodos antigos, mas há dias (aqueles em que conjugar um verbo é mais difícil do que ensinar um hipopótamo a dar a pata, ou que abro a lancheira e a comida retorna numa espécie de amálgama saída da bufunfa de um mamute) em que sinto que a pedagogia do croque era, se não mais eficaz, pelo menos mais eficiente.

A minha mãe não se preocupava que eu ficasse traumatizada, desde que eu tivesse juízo e não me metesse nas drogas.
Eu trinco as cabeças dos dedos com medo que os meninos fiquem com os sentimentos amolgados. Culpo-me do que faço demais, porque lhes facilito a vida e culpo-me do que faço de menos, porque tadinhos, só se é pequeno uma vez.

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