Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Exercício de escrita

2 de 365

02.01.23

Daqui a uma semana regresso ao trabalho. Vou passar a responder a uma chefe que, apesar de ter dentes e ser uma excelente pessoa, é muito menos fofinha que esta patroa que me explora nos últimos quase quatro meses. Vou voltar às diretrizes inteligíveis, com palavras que constam no dicionário em vez de andar a toque de gritos onde primam as vogais de um ser humano pequeno e exaltado.

Vai ser uma semana difícil, repleta de choro injustificado, colo e abraços que se arrastam no murmúrio de quem pede que o tempo se demore só mais um bocadinho.

Sei que será assim porque não é a primeira vez. Sei-o tendo também presente que nesta volta irá doer menos, não porque tenho mais calo, mas porque a malfadada pandemia me trouxe o teletrabalho em força e estarei por perto. Porque em vez de gastar 2 horas em filas deixo-a 2 minutos antes de ligar o computador, abraço-a à hora de almoço e volto a ser dela 2 minutos depois de terminar o dia de trabalho. Tenho essa sorte e não me posso esquecer que a tenho. Porque para muitas mães não é assim. Eu sei. Já me custou antes. Esta licença de tempo nenhum. Dá para ser maior? Dá. Mas esse maior tem um custo e há casa para pagar e comida que tem de se pôr na mesa.

Agarro-me ao saber que vou ser dona da minha agenda. Que vou voltar a planear, pelo menos para aquelas horas, com o prazer de saber que depende de mim cumprir e não de uma chefona de mãozinhas pequenas e trapalhonas que precisa da fralda trocada.

Vou brincando com isto, porque se não o fizer a nostalgia ocupa tudo.

Agora vou ali agarrar-me à minha patroa, mesmo sabendo que o único aumento à vista vem em cocó e no volume de fraldas trocadas.