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Exercício de escrita

A casa está sempre desarrumada...

28.09.21

A casa está sempre desarrumada e há dias em que gosto que esteja assim.
Porque o casaco atirado para qualquer lado enquanto o miúdo corre para o quarto deixa um rasto de vida. Porque significa que já passou por mim numa brisa, com um abraço de raspão e um beijo fugidio, mas sentido. Porque os livros que se encavalitam nas estantes querem dizer que há mais livros que prateleiras e enquanto há livros há menos solidão, menos aborrecimento. As histórias estão ali, no meio de páginas onde me posso perder. Porque os três pares de ténis à entrada de casa são nota de que entrámos à pressa com mais em que pensar do que a esquadria do calçado, a pressão do certinho na gaveta.
Detesto casas estéreis, daquelas que têm tudo sempre no lugar, irritantemente alinhado, tão imaculadas que até o pó parece ter medo de lá pousar. Não me sei mexer lá dentro.
A casa desarrumada cheira a família, cheira a gente nas assoalhadas. Daqui a nada alguém vai entrar, vamos ter coisas para falar, eu vou contar o meu dia, vou-me queixar dos meus males, o miúdo vai dizer que não se lembra de como foi o dia e o cão aparece com aquele ar de quem pensa: quero é saber quem é que vai atirar a bola.
 
A casa está sempre desarrumada e há dias em que me passo dos carretos com isso.
Porque as luzes ficam sempre acesas. Porque a roupa não para de crescer no cesto. Porque há sempre loiça para lavar e eu não vejo fundo ao tacho. Porque os cães largam pelos e Jesus que me devias arranjar um aspirador para lhes atarraxar à cauda. Porque me quero sentar no sofá de pés esticados a ver qualquer coisa que faz mirrar a massa cinzenta ao segundo sem pensar na lista de afazeres que se acumulam. Porque a mesa da cozinha nunca está como na revista, há sempre lá mais qualquer coisa do que a planta de centro. Porque a toalha da casa de banho nunca fica direita e se temos visitas o que raio vão pensar destes selvagens que moram cá em casa. E o chão? Meu Deus criador de todas as coisas, bichos e detergentes potentes, o chão. O chão que lavo e minutos depois passa por mim o cão de beiças longas, um misto de baba e água a pingar de cada lado.
Um tormento.
 
Acho que é isto: a bipolaridade da vida doméstica.

Cinco mulheres estavam sentadas...

19.09.21

    Cinco mulheres estavam sentadas numa mesa redonda ao fundo do restaurante. Era sexta-feira e o espaço estava lotado. Apesar disso, porque a mesa ficava num recanto da sala, o burburinho das outras mesas não as incomodava. Quatro das mulheres conversavam entusiasticamente. A quinta mulher estava de costas para uma esquina da sala, numa posição que lhe permitia observar todos os clientes, os funcionários frenéticos para chegar a todas as mesas, a pequena janela da cozinha onde a cozinheira, atarefada, barafustava com duas outras pessoas que não lhe respondiam de volta. A cozinheira seria provavelmente a dona, esposa do chefe de sala, que se mantinha à entrada e estava de olho no moço que preparava as bebidas, o mesmo que bebia um trago de qualquer das garrafas que tinha na mão sempre que o patrão estava ocupado a arranjar mesa para mais um grupo de pessoas. Apesar da vista privilegiada a mulher mantinha os olhos no copo de vinho à sua frente. No rosto um sorriso forçado, daqueles que persistem nos lábios não por vontade, mas por esquecimento. De quando em vez apetecia-lhe chorar e nesses momentos, mais do que em quaisquer outros, forçava mais os cantos da boca, como se, pelo trabalho feito pelos músculos da face, lhe fosse possível transmitir ao cérebro que os olhos estavam proibidos de deitar uma lágrima que fosse. Com o polegar e o dedo indicador a segurar a parte mais baixa do copo de pé alto, rodava o copo e fazia-se atenta às pequenas ondas do liquido.

    As duas mulheres que estavam de costas para o resto da sala aproximaram as cabeças. A que estava sentada mais à direita, de cabelo curto pintado de preto, uma mulher bem vestida que pousara uma mala cara no ombro da cadeira, falava para a que estava sentada à sua esquerda, uma mulher de cabelo castanho claro, longo e ondulado, também ela com uma evidente preocupação pela imagem, mas com um gosto menos requintado. A mulher da esquerda ouviu tudo o que a amiga lhe disse e, depois de beber mais um gole de vinho, lambeu os lábios e acenou afirmativamente com a cabeça enquanto dizia em surdina: é isso, não podia concordar mais. Depois, num ato que se sentiu contínuo, disse para a mulher sentada de costas para o canto: o problema é que te desleixaste, Sara. Nunca tomaste conta de ti e só piorou quando foste mãe.

    Fez-se um silêncio incómodo em que todas beberam um gole de vinho, não por vontade, mas para aproveitarem para avaliar o momento e perceberem para onde aquela conversa ia. A comida ainda não tinha chegado à mesa e até ao momento, enquanto gastavam uma garrafa de vinho como entrada à refeição, era a vida de Sara que estava na boca das restantes quatro, que, apesar de tecerem considerações vazias e comentários que não passavam de chavões e lugares comuns, nenhuma tinha ainda tido coragem de lhe dar a sua opinião sincera. Esta, a mulher de cabelos longos e ondulados, fê-lo por saber que não estava sozinha, que aquela ideia, agora verbalizada, iria ser suportada pelo menos por mais uma.

    Talvez tenhas razão, disse Clara antes de levar o copo à boca para beber o resto do vinho. Depois pegou na garrafa que estava em cima da mesa e voltou a encher o copo até meio.

    Acho que estás a ser injusta, disse a mulher que se sentara ao lado de Clara. A maternidade é uma experiência maravilhosa, mas muito difícil, redefine as nossas prioridades, mas terias de ser mãe para compreender isso, concluiu visivelmente agastada com o tema que todas sabiam não ser novo entre as amigas.

    Não tem nada que ver com filhos ou desleixo, pensou Clara, mas não lhe apeteceu dar justificações da sua vida e deixou que se desenrolasse a conversa. Afinal de contas o que quer que dissesse não mudaria a abordagem das amigas que, por aquela altura já tinham transformado a sua vida num tema delas.

    Ter filhos não é desculpa para tudo e a Clara nunca foi consistente a cuidar de si mesmo antes da miúda nascer, disse a mulher de cabelo longo e ondulado. Para além disso a criança já tem o quê? Cinco anos?, acrescentou olhando para Clara que levantou a mão direita com os dedos afastados em confirmação da idade da filha. Quantos anos são precisos para uma gaja se organizar? Vá lá, Clara, tu sabes que tenho razão. Diz aqui à Luisinha que ter filhos não é desculpa para tudo, rematou, procurando validação na mulher que se sentava ao seu lado direito.

    Clara não disse nada, as amigas tinham as suas próprias quezílias com que se entreter. Clara queria um jantar amistoso, onde não se falasse de temas marcantes, onde os seus lamentos, angústias e culpas diárias não fossem assunto, onde pudessem rir de coisas fúteis e sem significado. Onde não tentassem resolver a sua vida por si tendo por bitola as suas realidades. Mas, se bem conhecia o seu grupo de amigas, já teriam um comboio de e-mails trocados, usando o e-mail do trabalho, parando o que estavam a fazer e tratando da privacidade alheia como um assunto prioritário. No subjet “Nem imaginam” e o incêndio começaria com a frase: eu nem queria acreditar, mas o Miguel e a Clara vão divorciar-se. O segundo e-mail seria a questionar quem tinha deixado quem e o terceiro o porquê da separação. Depois vinha a avaliação.

    Ao perceber que tinha o copo novamente vazio, Clara chamou o empregado, pediu que trouxesse mais uma garrafa igual e aproveitou para perguntar porque razão as refeições estavam a demorar tanto. Estamos com menos uma pessoa na cozinha, lamentamos a demora, esclareceu o empregado, diligente e provavelmente desgastado de plantar a mesma frase em todas as mesas.

    Enquanto rodava o copo vazio, mantendo o exercício em que se aplicara todo o tempo em que ali estivera sentada, Clara, ouvindo as opiniões das amigas, deu consigo a pensar nas bases daquela amizade. Como é que, vinte anos depois de se conhecerem, ainda dava consigo ali, rodeada pelas miúdas agora mulheres, que sempre ditaram frases começadas por devias fazer isto e devias era fazer aquilo.

     Imaginou se seria assim caso a notícia comunicasse a sua morte. Se também nessa ocasião se sentariam juntas num qualquer sítio, regadas a vinho, a encontrar todas as formas de culpa que lhe podiam imputar. O peso a mais, as escolhas menos saudáveis, a melancolia, terminando com um: estava-se mesmo a ver que acabaria por acontecer mais cedo ou mais tarde.

    O jantar acabou e à porta do restaurante, depois de fumarem um cigarro, despediram-se como se tivessem estado a debater a vida de alguém que não iria para casa com toda aquela informação a martelar a sua já imensa culpa. Culpa por tudo o que sabia que podia ter feito melhor e culpa por não saber de que mais sentir culpa.

     O silêncio da casa parecia mais pesado que o batucar de um tambor. Descalçou-se à entrada para não ouvir o som dos seus próprios passos. Entrou na cozinha. Abriu a gaveta dos talheres e tirou uma colher. Foi ao congelador e tirou uma caixa de gelado. Encostou-se à bancada, fitando a parede, enquanto comia colherada atrás de colherada sem dar valor ao prazer da iguaria que se derretia na boca. Tinha passado o jantar a atirar pedaços de comida de um lado para o outro, não estava capaz de comer à frente delas. Elas, que a achavam desleixada, com peso a mais. Elas que tinham soluções. Elas que diriam depois de entrar no seu carro coisas como: viste como é que ela comeu, enfartou-se de pão, não deixou uma migalha do prato.

Gosto muito de setembro.

15.09.21

Não sei se é o meu mês predileto, porque não sei se tenho um mês com esse destaque. Sei que gosto muito. Às vezes acontece assim, sei que gosto muito, mas nem sei bem porquê. Sei que me sabe a recomeço. Mais do que o ano novo. Mais do que o meu aniversário.

Não sei se sempre gostei de setembro. Porque não sei se gostei sempre de alguma coisa já que às vezes me canso até do que gosto. Sei que em setembro começava a escola e eu gostava de comprar os cadernos, de sentir o cheiro dos livros, de escrever o horário naquele retângulo de papel frágil, de comprar canetas de muitas cores, de sentir que a minha vida, tal como os cadernos de linhas ainda por estrear, tinha uma história por escrever e eu podia fazer melhor. Em setembro ia estar mais atenta, ia apontar tudo, ia usar uma cor para os títulos, outra para o texto, outra para assinalar as coisas importantes. Não ia riscar as anotações, ia ser rápida com o corretor. Ia aplicar-me na matemática e ser como o crânio da turma, que se sentava sempre no fim da sala e tirava dezanove a tudo. Em setembro acabava a moléstia do verão, fechava-se a porta ao calor intenso e a vida começava outra vez, como se a Terra se propusesse a mais uma volta ao sol a partir daquela data. Os meses que se seguiam poderiam corromper todos os planos. Mas em setembro não, porque em setembro os cadernos eram novinhos em folha, o estojo ainda não estava manchado das canetas rebentadas e eu ainda estava encantada com todas as matérias por aprender.

Em calhando foi a escola que me trouxe este gosto pelo mês de setembro. E agradeço-lhe isso. Como agradeço muitas das minhas melhores memórias. Porque gosto de carteiras de escola, das cadeiras de madeira, dos quadros de ardósia, dos apagadores carregados de giz, dos apontamentos e das letras indecifráveis dos professores, dos cadernos debaixo do braço, da mochila presa por uma alça, das coisas que se aprendem e que nos dizem baixinho que se as soubermos bem, portas e janelas se abrem e o caminho fica menos sinuoso.

Em setembro acaba a loucura das férias alheias, e eu aproveito o resto do descanso, reorganizo os meus dias, recomeço pelo meio tal como nos tempos de escola, como se o toque para a entrada já me fizesse falta. Preparo a minha agenda, desta vez em formato digital. Comprometo-me a cumprir escrupulosamente com cada quadradinho. Marco na agenda de mão as coisas que não são de trabalho. Vou fazer isto aqui, aquilo ali. Vou riscar quando está feito. Vou consultar todos os dias para não me esquecer. Vou fazer listas que me poupam à ansiedade. Vou imprimir novas, que posso pôr na porta do frigorífico -  presas com as lembranças de sítios onde já fui - para lá escrever quando os ovos acabam e não ter de andar a fazer vistoria aos víveres sempre que vou às mercearias.

Em setembro tudo é possível. Menos voar. E plastificar livros sem deixar meia dúzia de bolhas ranhosas.

Luísa

Parte 10 - Conto

01.09.21

Quando cruzei o meu olhar com o da bebé, podia jurar que eram os olhos da minha mãe que me fitavam. Foi uma gravidez calma, sem dores ou idas urgentes ao hospital por pequenos sustos. Não engordei demasiado porque comia em excesso em resultado do stress, como aconteceu na primeira gravidez. Não fiquei um palito com barriga como aconteceu da segunda. Uma mãe demasiado cansada a fazer outro bebé.

Passou um ano desde que a carrinha conduzida pelo senhor Américo parou à porta da casa grande da quinta. Voltei à minha casa meia dúzia de vezes. Para mudar o processo escolar das miúdas para aqui. Para levar a minha mãe a consultas de acompanhamento, ainda que contra a sua vontade. Para tirar todas as minhas coisas daquele que foi o meu lar por mais de dez anos. A casa que as minhas filhas conheceram como sua. Quando tirei o último saco chorei, olhei em volta e chorei pelas saudades que já sentia dos recantos daquele meu espaço. O melhor e o pior da minha vida aconteceram ali.

Não vendemos a casa. Optámos por alugá-la. Assim ficaria como um investimento. A casa pagar-se-ia a si própria. Conseguimos uma inquilina excelente que não nos dá arrelias.

A Carina, menos apegada a tudo, vendeu a casa dela e só manifestou alívio por nunca mais ter de passar aquela porta. Por se ver livre do crédito habitação.

Quando propusemos ao nosso pai transformar o lugar num turismo rural o homem mostrou-se tão radiante que julguei que se ficava ali de excitação. Concordou com tudo o que quiséssemos fazer. Não quis valor de renda. Ofereceu-se para investir em melhorias se fosse necessário. Só pedia que, de vez em quando, uma vez por mês, quem sabe, o aceitássemos como cliente não pago.

Nem a Carina foi difícil de convencer.

As últimas semanas da mãe foram passadas num permanente abraço de família. Estávamos todos, sempre, a minutos dela. Exatamente porque sabíamos que a qualquer momento, podíamos chegar e ela já não estar connosco.

Até o nosso pai quis passar esse período connosco. Mantinha-se afastado. Fazia caminhadas longas para não se notar, mas, de quando em vez, lá dava com ele, encostado à cabeceira da cama dela, a falar-lhe em surdina de qualquer coisa que a fazia sorrir.

Estava um dia bastante agradável para dia de inverno. Ainda faltavam algumas semanas para o natal, mas tínhamos o espaço todo arranjado. Luzes, fitas, vermelho por todo o lado, brilhantes, bolas que imitavam neve. Chamou-me. Apetecia-lhe ir lá para fora. Queria apanhar ar, estava farta do quarto. Estava frio, mas bonito. O Daniel ajudou-me a sentá-la na cadeira de rodas, a aconchegá-la em mantas. Sentámo-nos no alpendre a fazer-lhe companhia.

Chegou-se a Carina, o Eduardo que agora trabalhava por conta própria e geria o seu horário, o meu pai, com a distância necessária. As miúdas brincavam ao longe. Riam na nossa direção, ocupavam-se da pequena que se encantava com tudo o que elas faziam.

- Vou ter saudades das miúdas. Especialmente delas. De vocês também. Pode ser que seja verdade, que as consiga ver lá de cima. Digam-lhes para que, de vez em quanto, acenem para o céu. Só para o caso de eu estar atenta. Assim sei que ainda se lembram de mim.

Pus-lhe a mão no ombro. A Carina, sentada no chão, deitou a cabeça no colo dela, como fazia quando era miúda e as coisas não corriam de feição na escola. E ela, dividindo o que tinha entre as filhas, como sempre fizera, segurava a minha mão por cima do ombro. Afagava o cabelo da Carina, devagar, como quem amansa um bichinho com medo.

Já não me lembro quanto tempo ali ficámos, em silêncio, ao som das gargalhadas das miúdas, até que nos disse que queria voltar para dentro. Ajudámo-la a deitar-se. Demos-lhe um beijo antes de sairmos para outros afazeres na casa. Era assim naqueles dias, despedidas muitas, despedidas que não se diziam por despedidas.

Partiu leve e pacífica. A dormir.

Nas semanas seguintes senti-me mal. Vomitava sistematicamente. Estava fraca. Achei que era tristeza, que era ansiedade, que era dor da perda, que era normal. Passaria quando o corpo e a cabeça se habituassem àquele vazio. Foi a Carina que insistiu que eu fosse ao médico.

Feitas as análises confirmou-se a suspeita do médico. Ri-me quando colocou a hipótese de eu estar grávida. Estava.

As miúdas ficaram radiantes. A minha irmã primeiro torceu o nariz. Depois achou fantástico que a filha tivesse uma prima ou primo de idade mais próxima.

- Vida nova. Pessoas novas. – disse o Daniel, mais eufórico do que eu podia imaginar.

Da minha parte não sabia o que sentir. Passei a gravidez assim, sem saber o que sentir. Tinha uma perda para sarar, uma mudança de vida para me habituar, um ritmo que se entranhava cada vez mais e agora, com esta idade, tudo de novo. Fraldas, choro, chupetas, noites interrompidas, primeiras gracinhas, primeiras palavras. Desta vez não tinha a minha mãe a quem ligar, por isso, na maioria dos dias, quando lavava a loiça e tinha a janela aberta, olhava para cima e pedia-lhe que me desse uma ajuda. Que fosse tomando conta daquilo a que eu não chegava. E a bebé mexia, pontapeava.

Quando chegámos a casa, eu cansada do parto e das primeiras noites. O Daniel fresco e a empurrar o carrinho. As miúdas pediram para mostrar o que era importante à irmã.

Pedimos-lhes cuidado.

Elas guiavam à vez. Num trabalho distribuído. Apresentavam uma casa, outra casa, o avô tardio que se sentava no alpendre da casa grande e era avô e hospede grátis. Um casal que estava a passar uns dias connosco ria com a desenvoltura das miúdas. A casa pequena da tia, a casa pequena onde ela ia viver. A piscina, o espaço para brincar, o escorrega, o caminho para as bicicletas. E o céu, onde morava a outra avó, aquela que só viam brilhar à noite, antes de irem dormir, para que nunca tivessem medo do escuro.