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Exercício de escrita

Laura

Conto

28.01.22

Há pessoas que parecem estar sempre a fazer a coisa certa. Podem decidir levar a cabo o maior dos disparates, uma imbecilidade completa, que, quando nos dizem que estão prestes a perpetrá-la, toda a falta de bom senso parece ser sugada para um universo distante e sim, é evidente que aquela é uma boa ideia.

A Laura era assim. Chegou ao pé de nós e disse: vou candidatar-me a um posto em França, estou farta disto aqui em Portugal, não ata nem desata, uma pessoa precisa de evoluir e aqui não chega a lado nenhum. Preciso de outros ares. Não sei como é que vocês aguentam, eu estou tão saturada. E num ápice aquela vida que tínhamos como certa e tranquila, tão boa ao pé dos que não tinham a mesma hipótese de um trabalho de secretária com saída certa às seis, meia dúzia de regalias e um fim de semana livre, num suspiro aquela vida passou a ser enfadonha. A Laura tinha razão, estávamos a deitar tudo fora. Tínhamos de viver. Ela é que sabia viver. Ela pegava o touro pelos cornos e fazia com que o mundo girasse a seu bel prazer. Já a podíamos imaginar a passear-se nos Champs Elysees, rua acima rua abaixo, a entrar nas lojas caras, a sair de lá com mais uma camisa e mais um vestido e outro casaco. Todos lhe assentavam bem.

E a Laura lá foi. Havia outra candidata, mais competente até, mas por qualquer razão os argumentos da Laura na entrevista convenceram mais. Durante semanas não se falou noutra coisa, todos queriam um pedaço de tempo da Laura e ela não se escusava a conceder essa atenção. O que ia fazer, os restaurantes que lhe haviam recomendado, o francês que andava a treinar para não fazer má figura, as roupas que tinha encomendado porque as mulheres em França isto e as mulheres em França aquilo. Sobre o futuro dizia: não sei, logo vejo, o que será será, já dizia a Doris Day. Nunca gostei muito de planear, sabes? E continuava a fumar o seu cigarro, que parecia um gesto de requinte mais do que um mau hábito.

No último dia de trabalho fez-se um arraial. Balões, fitas, choro. Houve até quem lhe fosse comprar utilidades para que nada lhe faltasse em Paris. As saudades que iam ter da Laura, merecia tudo. A coragem de ir sozinha assim para o desconhecido.

Fez-se um jantar, a despesa foi rachada por todos e, claro está, a Laura não pagou porque não fazia sentido, então agora a pobre Laura tinha de poupar porque a vida lá fora era mais cara.

Nas primeiras semanas o escritório parecia cinzento. Faltavam as histórias da Laura. A sabedoria de vida.

Tenho uma amiga muito viajada que um dia me disse que é uma vergonha ver uma mulher com roupas caras e mãos por arranjar, lá fora as mulheres de classe não fazem isso, disse-me a Laura uma vez, tinha eu ido com as unhas ratadas para o escritório. Desde aí sempre que olho para as minhas mãos vejo a Laura encostada à máquina do café, com os seus olhos curiosos a perscrutar-me, inocentemente explicando porque é que eu não tinha classe. Nunca mais andei de verniz ratado.

As coisas foram voltando ao normal. Da Laura falava-se de vez em quando, como ia por lá, na terra dos avecs. Deviam estar todos encantados com ela.

Até que um dia me cruzei com o Daniel na Rua do Ouro. Eu andava a dar uma volta à hora do almoço, a mexer as pernas e a fazer tempo, ele ia tratar de qualquer coisa que me explicou mas eu não fixei.

O Daniel tinha sido companheiro da Laura. Conheci-o num dos jantares que havíamos feito entre colegas e para os quais, quando as coisas já resvalavam para a amizade, se começavam a convidar os namorados, os maridos, as companheiras e por aí em diante. Era um tipo calado.

Falámos de como vais e como tens andado e a vida assim e a vida assado. Circulámos à volta da Laura umas sete frases até que ele me perguntou: então e a Laura, sabes se tem estado bem?

Disse-me aquilo de uma forma enternecedora, como quem se preocupa por outra pessoa que ficou aleijada depois de um acidente grave. Eu lá lhe expliquei que a Laura, tanto quanto sabíamos, estava ótima. Que compreendia que para ele tivesse sido difícil aquela rotura, mas ela tinha outros sonhos, era preciso seguir em frente.

Ele baixou a cabeça, abanou-a um par de vezes e disse: ai a Laura, a Laura, a Laura a ser a Laura, não há cu que aguente essa puta dessa mulher. Eu chocada. A Laura. A nossa Laura. A Laura que fazia sempre a escolha certa mesmo quando estava errada. A Laura que copiávamos. A Laura que ouvíamos embevecidas.

Lá me contou que a havia deixado. Já não aguentava aquela vida de faz de conta que ela inventava. Viagens, carros caros, restaurantes requintados. Tudo mentira. Moravam num T1 no Fogueteiro. Não havia vida para mais porque ele estivera metade do tempo desempregado e ela gastava tudo em salões de cabeleireira e roupa comprada a prestações. Foi ele que tinha posto um ponto final à relação. Ela, a equilibrada Laura, a Laura decidida que estaria agora a fazer apresentações inteligentes numa sala de reuniões, a Laura tinha atirado com loiça, partido candeeiros, descabelara-se. Como é que ele se atrevia a deixá-la. Atirara-se ao chão. Puxara-lhe as calças. Um cenário deprimente. Na primeira semana ligava-lhe dezenas de vezes por dia. Terminou com a Laura aos gritos à porta da loja dos pais.

Meteu-se a policia ao barulho. Apresentou queixa.

O apartamento era dele, pelo que a Laura se viu enfiada na casa do pai, algures na Cruz de Pau.

Despedimo-nos. Ele apressado para os seus afazeres, eu a olhar para as minhas mãos arranjadas. Não tinham uma lasca.

 

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"Autoterapia", a minha newsletter

23.01.22

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Tenho pensado muito na melhor forma de levar a cabo este meu exercício de escrita. Gosto de escrever porque é terapêutico, porque me dá prazer, porque é uma das poucas coisas que faço com a cabeça 100% dedicada. Pensei em escrever histórias para o Instagram, mas a limitação de espaço e o dedo guloso do Zuquércoisinho fazem com que se torne cada vez menos aliciante, já que há um algoritmo ganancioso por detrás sempre a manipular o que mostra, a quem mostra e a ver se come dois tostões e meio a quem cria alguma coisa. Pensei em usar mais o blog, mas já tive tantos blogs que acabei por fechar porque sinto sempre que me falta alguma coisa que, não sei, não era o caminho (vou escrendo na mesma os meus apontamentos, mas preciso de qualquer coisa que seja construída com aquele toque de vinha de alhos, porque marina na espera). Pensei em escrever e não publicar nada. Meter na gaveta. Mas algumas coisas são mais giras se forem lidas. E o exercício de escrita só parece ter propósito se houver quem queira ler.

Então dei comigo a ler newsletters que achei mesmo interessantes (Carta Branca de Ana Sousa Amorim; Palavra por palavra de Lénia Rufino, Yellow Letter de Rafaela Mota lemos). Conteúdo que recebo e posso ler quando quiser ou puder. Conteúdo que não foi feito para likes e mil partilhas. Conteúdo honesto de quem gosta de escrever. Fui-me pondo de macaca de imitação, a pensar que podia ser isto. Podia ser uma coisa que me agradasse. Escrever sabendo que pelo menos o meu marido e a minha prima vão ler. Se não houver mais ninguém, pelo menos serão 2. Saber que escrevo para aquelas pessoas, se depois elas acabam por ler ou não já não sei. Não importa, está feito, enviado. Não há likes nem comentários. Não há imediatismo nem feedback esperado. Há um processo de escrita e com sorte alguém disponível para ler.

Mais: posso fazê-lo com tempo, pensar e repensar conteúdo.

Com calma.

Sei que é mais uma newsletter, mas é a minha. É a minha posta de pescada.

Para já tenho este logo que fiz sem jeito. Tenho uns apontamentos escritos à mão (e que não consigo ler na integra porque tenho uma caligrafia de merda) e um draft do formato da primeira Autoterapia que vou enviar.

Se a quiserem subscrever, podem ir este LINK. Se derem com erros avisem-me. Sou assumidamente patega nisto.

 

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Tanta Gente, Mariana e As palavras Poupadas, Maria Judite de Carvalho

Livros de 2022

17.01.22

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Os livros, quando são tão bons quanto este, deixam-me com menos palavras. Acho sempre que o que quer que diga sobre eles ficará aquém daquilo que merecem.

Não conhecia a obra de Maria Judite de Carvalho e hoje lamento, porque teria gostado de já a ter lido antes.

Agradeço ao Plano Nacional de Leitura e ao blog Ministério dos Livros pela recomendação. Vou certamente gostar muito de ler os restantes volumes.

Do volume I gostei particularmente dos contos A vida e o sonho, A avô Cândida e A mãe.

É desarmante a forma como os personagens são retratados. Gente de carne e osso, com características verdadeiras, daquelas que sabemos ter e não que embelezamos com palavras elegantes que fazem de nós menos abjetos para o mundo. A gente que povoa as histórias de Maria Judite de Carvalho é gente com quem nos cruzamos, gente que é boa e má num só, porque não há perfeitos e imperfeitos. Adoro histórias assim, escrita como esta, que me faz parecer que as personagens podiam ser pessoas que conheço com sentimentos que podiam ser meus naquele contexto.

 

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#5

Microconto

15.01.22

Quer dormir. Não consegue. A noite parece-lhe infinita. O colchão requintado não ajuda. As palavras sussurradas, debitadas por uma aplicação, de nada servem. É a cabeça que não se deixa apaziguar. Diz para consigo, num misto de negociação e ameaça: dorme desgraçada, amanhã tens de te levantar cedo e depois não tens miolos para nada. Espreita o relógio. Tarde para o sono recomendado. Cedo para acabar com o suplício de espera. Os sons da casa são mais altos assim. Conhece-os todos. Cada ranger de móvel. Mais duas voltas para a direita. Três para a esquerda. Basta.

Senta-se na cama. A mente parece-lhe oca. Diz até mais logo à cama, voltarão a conversar, é certo.

 

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A vida e os apontamentos sobre ela

#7

09.01.22

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Se há sítio onde gostava de morar era aqui, nem me importava que fosse apartamento na mesma, com um quintal destes. É sempre este o pensamento que me ocorre dois minutos depois de começar a andar pelo parque das nações. Gosto daquilo tudo. Tanto que nem me apercebo do cheio nauseabundo que por vezes aromatiza o ar quando a maré está baixa. Gosto dos prédios mais perto do rio, que são mais baixos, me parecem mais recatados, fugindo àquele design de galinheiro para humanos em que andam a investir nas construções mais recentes.
Venho de lá sempre com pensamentos imobiliários. O que é que eu preferia: uma vivenda com piscina ou um T3 daqueles num condomínio? Quando por lá estou e nas horas que se seguem fico neste impasse imbecil, já que não tenho conta bancária desafogada para me lançar a qualquer das hipóteses sem que tivesse de prescindir de todos os pequenos e microscópicos luxos a que me permito.
Fica o passeio. E o suspiro conformado de remediada.
O miúdo veio de lá todo borrado depois de andar a trepar “montes”. Eu descontraída porque estava em sonhos imobiliários e tenho uma embalagem nova de Skip em casa. Uma pessoa se não confia no Skip não confia em nada. Olhava para ele e só me parecia que tinha passado manhã nos Fuzileiros. Coisa boa da sua mãe.
Bebi um descafeinado por euro e dez e estive quase para lamber a chávena porque a este preço a pessoa até as borras devia levar para casa. Pior que isso só os quatro euros que uma vez paguei por um sumo de laranja em Cascais. Mas os citrinos devem ter sido apanhados à mão por uma princesa belga, espremidos por uma donzela e tratados por você enquanto aguardavam uso. O que é de qualidade paga-se, já se sabe.
Levámos o Bob. Regalou-se. O que o bicho gosta de perceber que vai de pandeiro tremido para algum lado. Agora está aqui a dormir, ressona enquanto escrevo, parece um porco, benzadeus. 

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#4

Microconto

08.01.22

Saiu do trabalho à hora certa. Mesmo a tempo de apanhar o metro seguido do comboio. Mesmo a tempo de chegar à porta da escola antes do limite do tempo. Ia abraçar o filho, iam conversar no carro, ele ia dizer-lhe que tinha brincado muito no recreio, ela ia contar-lhe sobre a senhora na estação que levava um cão pequenino na mala.

Chegou ao pé dela cabisbaixo. Não lhe quis dar um abraço. Entrou no carro e não disse palavra. A meio do caminho ela perguntou-lhe se estava triste. Ele respondeu: porque é que vieste mais cedo? Estava a terminar uma brincadeira e tive de sair a meio por tua causa.

As mães estragam tudo.

 

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A vida e os apontamentos sobre ela

#6

07.01.22

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A menina tem asma, faz-lhe bem grandes temporadas de praia. Este verão levem-na à praia. Isso e natação, que também é bom para abrir a caixa. E foi assim, depois da mezinha do médico, que os meus pais me inscreveram na natação. Foi assim que se marcaram férias para agosto, passadas em casa, com saída de manhãzinha para ir à praia e estar de volta ao carro antes do meio dia. É que quando eu era miúda não se punha protetor solar aos miúdos. Nem aos miúdos nem aos graúdos, já agora. Seguiamos cedo para a praia e saíamos antes que relógio batesse as 12, porque a essa hora é que a coisa vinha de lá tipo laser e uma pessoa tinha que se proteger. Havia uma lata de Nívea que se barrava de vez quando na cara depois de uma avaliação amadora ao tempo. Ainda me lembro dos meus pais a abanar a cabeça, indignados, quando chegavam famílias à praia àquela hora.
Era aqui, em Sesimbra, que fazíamos praia. Porque na Costa as ondas era bravas, eu ainda tinha medo do mar e não se podia nadar em condições.
No princípio usava bóia, mas entretanto aprendi a boiar, a dar braçadas e por essa altura já ia ao mar como se fosse uma segunda casa e a minha mãe, arrepiada coitada, olha a menina que se vem uma corrente ainda a leva.
Em Sesimbra nadávamos como patos atrás do meu pai. Íamos bem para o fundo, até onde havia barcos. Um dia ainda subimos para um, convidados pelo dono.
As melhores memórias da minha infância foram passadas nesta areia. Ou na areia que estava cá antes desta. É o mais provável.

 

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Princípio de Karenina, Afonso Cruz

Livros de 2022

06.01.22

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É difícil apontar qual é a pior coisa que nos pode acontecer na vida, mas diria que passar por ela sem a ter vivido deve estar no topo da lista. É lamechas, bem sei. Está taco a taco com o apreciar das pequenas coisas, também sei. Mas não há como fugir ao que é verdade.

Deixar que os medos, os receios e o comodismo nos roubem aquilo que só podemos ter uma vez sabe a desperdício.

Esta história de Afonso Cruz é, para mim, sobre isso. Para mim porque já se sabe que as histórias, como as músicas, dizem alguma coisa de especial e diferente a cada pessoa que as lê.

Esta é a história de um pai que conta uma vida à sua filha. Há um filho que aprende o mundo como o pai lhe ensina. Uma mãe frágil. Uma esposa eficiente. Um amor que entra sem ser convidado e que muda aquilo que o mundo representa.

Uma história tão bonita para começar as leituras de 2022.

Aqui ficam algumas das frases que sublinhei para poder voltar ao livro e saber de onde me recordo de as ter lido:

“O som do Outono ouve-se com os sapatos. Quando as solas partem as folhas secas das árvores”.

“Os anos são eficazes a passar.”

“Mas a vida que vale a pena ser vivida precisa de desequilíbrio.”

 

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A vida e os apontamentos sobre ela

#5

05.01.22

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L de lost.

Perdida e desanimada me confesso. Não sei se é do frio, se é da chuva, se é do mês, se foram os chineses ou o rabanete, mas sinto-me qualquer coisa que não consigo adjetivar adequadamente. É como se estivesse numa espécie de impasse. Como se tivesse tirado uma senha e nunca mais chega ao meu número. Como se tivesse passado as últimas duas semanas do ano numa espécie e hibernação mental e agora entra um ano novo e está tudo parado. Racionalmente nem eu me entendo. É como se estivesse à espera de ver coisas a acontecer e não se passa nada. Tenho vontade de fazer alguma coisa, mas nem eu sei o quê. Já fiz bolo no fim de semana. Já fiz exercício para não começar isto sedentária. Já me agarrei a um livro novo que estou a adorar. Mas nada. Pareço aqueles cães que quando ouvem a palavra bola perdem as estribeiras e já ninguém os agarra. Eu sinto que o meu cérebro está à espera que alguém atire a bola para correr atrás dela. O meu cérebro está assim, entretido a fazer analogias de merda como se pode ver. E a dizer às mãos para as escrever como se isto interessasse a alguém.

 

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A vida e os apontamentos sobre ela

#4

02.01.22

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Gosto quando a casa cheira a bolos. Dá-me um aconchego que vocês nem sabem.
Ontem vi esta receita. Pensei em fazê-la um dia destes que é como quem agenda no outlook da cabeça para fazer uma coisa um dia e depois já sabe que nunca mais lhe volta à memória, já que a tola por melhor que seja só dá pop-ups quando lhe apetece.
Hoje entrei na despensa e tinha uma laranja, logo uma, a quantidade certa. Mesmo a pedir. Pensei: nem é tarde nem é cedo. Pus mãos à obra.
O miúdo não não passou cartão. Come mindcraft. O marido, ai que comprei pão fresco e tal e tal. E eu, capaz de o comer acabado de sair do forno, sentei-me no sofá à espera que arrefecesse porque se há coisa que uma pessoa não precisa em altura nenhuma é um destempero.

A forma não é tão bonita como a da Filipa Gomes mas também está bem composto. Eu cá acho.


A receita está no site do 24 Kitchen. Bolo de laranja inteira.

 

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