O ano passado, por esta altura, publiquei um texto que começava com a seguinte frase: a Jennifer Lopez não aspira a casa. O texto não era sobre a diva e aquilo que ela tem. O texto era – e é – sobre nós, comuns mortais, que nos deixamos impressionar sem ter em consideração as condições e contexto de cada um. Escrevi esse texto depois de ver passar dezenas de partilhas da fotografia de aniversário da estrela. Uma fotografia maravilhosa, sem dúvida, onde está arrebatadora, sem questão. Mas uma fotografia trabalhada, não só por mecanismos digitais, mas em resultado de uma produção fotográfica que não está ao alcance de qualquer pessoa. Uma sessão produzida para celebrar o seu aniversário e o posterior lançamento da sua linha de cremes de rosto (que custam os olhos da cara e o do…). O corpo que vemos nestas fotos não resulta só de #nopainnogain e #foco. Resulta de: muito trabalho de ginásio, técnicos especializados, roupas ajustadas, cremes, alimentação cuidada e cozinhada por profissionais, e de uma pessoa que precisa da sua imagem para manter a sua marca. Não há nada de errado nisso. É para mim, apenas algo evidente.
O texto que escrevi foi compreendido e bem aceite por muitos. E os que o receberam mal não foram propriamente agradáveis.
Não o escrevi – como me chegaram a dizer – por achar que admirar umas rebaixa as outras. Escrevi porque também eu, enquanto mulher com tantas inseguranças em relação ao meu corpo, preciso de me lembrar que a minha vida e o meu contexto são diferente daquele. Eu não preciso da minha imagem para nada que não seja apenas satisfação pessoal. Não faço filmes, videoclips, concertos, não tenho uma linha de cremes de rosto e outra de corpo para vender a quem quer ficar com uma pele igual à minha.
O corpo de cada pessoa é diferente e esse diferente não depende só da vontade e da garra. Depende da genética, do histórico de exercício, das características individuais, do contexto de vida, das limitações físicas que têm ou ganham com o tempo, do tempo que têm para dedicar ao tão em voga self care, daquilo a que a carteira chega.
Se fico impressionada que – este ano novamente – aos 53 aquele mulherão tenha o corpaço que apresenta. Fico. Porque está ali trabalho e dedicação. E porque eu, se pudesse, bem que estava melhor agora à beira da piscina dela do que aqui a tentar acalmar os afrontamentos com uma ventoinha da EletricO. Se fico mais impressionada com ela do que com a minha vizinha que todos os dias de manhã corre 10 km, faça chuva ou faça sol, e depois se veste para um dia de trabalho e sem horas para jantar? Não. Impressiona-me muito mais a minha vizinha, até porque corre ao nascer do dia, à beira da estrada, e receio que qualquer dia leve uma panada de um carro conduzido por um gajo que estava a mandar um whatsapp para o emprego a dizer que ia chegar atrasado.
Dito isto, papo os filmes, ouço as músicas, mas não lhe compro os cremes, porque se o fizer fico sem tostão para dar de comer às crianças e duvido que estas ventas ficassem muito melhores do que estão agora.
Parabéns à JéLó – já lhe vou mandar uma mensagem, ela deve estar desejosa de receber notícias minhas.
E que não nos esqueçamos, ela está linda e maravilhosa, e nós, também vamos estando, de acordo com o nosso contexto, na nossa vida costumeira, que se deve passar fora do ecrã, que é onde as coisas valem a pena, mas também abanam, nem sempre têm a luz certa e não permitem filtros nem retoques.
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