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Exercício de escrita

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26.02.23

Queria ter um botão de pausa. Um botão de pausa como os dos comandos. Aquele que uso para parar o programa que me interessa para ir arrumar a cozinha e depois poder voltar para ver o resto mais descansada. Gostava de ter um botão desses para pôr o mundo em modo freeze, tudo parado, assim com os gestos suspensos, para que eu pudesse pôr ordem na minha vida.
O caos deixa-me estourada.

Vamos imaginar que tenho uma lista de dez tarefas. A meio da primeira já a segunda está em atraso. Quando começo a segunda já a terceira devia estar acabada, quando estou a começar a quarta já essa está tão no vermelho que a quinta e a sexta apitam para ser atendidas e já nem querem saber das demoras anteriores. Quanto começo a oitava já a primeira tem de ser feita outra vez e então nunca chego à nona e à décima, porque o ciclo volta ao início e eu sou arrastada novamente.

Faço listas, bloqueio agenda, faço promessas e juro a pés juntos que tenho mesmo de fazer isto ou aquilo, mas aparece sempre qualquer coisa mais premente e o isto ou aquilo fica relegado para quando der.
É o chamado nunca ver o fundo ao tacho. É como se tivesse corrido desenfreadamente para apanhar um comboio em andamento e só tivesse alcançado uma corda que pendia do vagão que leva carvão ou qualquer minério que larga pó preto, uma espécie de substância que me borra as ventas todas. Eu lá vou, agarrada com todas as forças, os pés já se levantaram do chão e o comboio não pára, segue a alta velocidade e quem quer ir nele que se agarre firme.

Isto para dizer que sinto que estou na merda e na maior parte dos dias não sei para que lado me virar.

Se calhar devia ligar a um coach ou fazer um worshop da vida só mesmo para perceber de forma certificada que estou enterrada em trampa até ao pescoço.

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24.02.23

Criei a minha própria versão do Flowers da Miley Cyrus. Chama-se: Cakes. A minha versão está melhor, porque alimenta. Quem disser o contrário leva com uma wrecking ball nas ventas.

Estávamos porreiros, estávamos cremosos
O tipo de refogado que cheira do hall de entrada
Estávamos bem temperados até ficar salgados
Untámos a forma e polvilhámos com farinha

Hummm, eu não queria comer tudo
Eu não queria malhar tudo
Comecei a ficar com gases e depois lembrei-me que

I can buy myself bolos
Esfregate my focinho em creme de ovos
Eat sozinha a ver parolos
Misturar ingredientes que tu não entendes
Posso encomendar sozinha na UberEats
E posso pôr a mesa só para mim
Ya, eu consigo alimentar-me melhor do que tu

Consigo alimentar-me
Consigo alimentar-me, mitra
Consigo alimentar-me
Consigo alimentar-me, mitra

Pus dois toppings de caramelo no meu Sunday
Fiz molho pesto para o esparguete que deixaste no frigorifico
Não me enfartei, nem fiquei enjoada
Desculpo-te por teres deixado a massa demasiado cozida

I can buy myself bolos
Esfregate my focinho em creme de ovos
Eat sozinha a ver parolos
Misturar ingredientes que tu não entendes
Posso encomendar sozinha na UberEats
E posso pôr a mesa só para mim
Ya, eu consigo alimentar-me melhor do que tu

Consigo alimentar-me
Consigo alimentar-me, mitra
Consigo alimentar-me
Consigo alimentar-me, mitra

Eu não queria rapar o tacho
Eu não queria ser mamona
Comecei a ficar com gases e depois lembrei-me que

I can buy myself bolos
I can buy myself bolos
Esfregate my focinho em creme de ovos
Eat sozinha a ver parolos
Misturar ingredientes que tu não entendes
Posso encomendar sozinha na UberEats
E posso pôr a mesa só para mim
Ya, eu consigo alimentar-me melhor do que tu

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23.02.23

"Mãe, o que é o jantar?"

Olha, filho, não sei. Se calhar meto uns douradinhos no forno, ou passo uns bifes na frigideira. Andamos a comer muita carne, bem sei, mas a mãe mal tem tempo para pensar. Se calhar comemos uma sopa e pão com queijo, assim uma espécie de acepipes. Já sei que querias massa ou pizza, mas não pode ser sempre. Bom era a mãe conseguir organizar-se e fazer um peixinho no forno com ums legumes a vapor, mas a mãe nem tem utensílios para fazer coisas a vapor. Olha, em calhando comemos uma latinha de atum com batatas, o que achas? Não te apetece? Querias croquetes ou hamburgueres ou qualquer coisa com batatas fritas. Shshshshsh, não digas às pessoas que comes batatas fritas tantas vezes que ainda acham que a mãe não te dá nutrientes que cheguem. Sopa há de certeza, só me falta o resto. E por falar em resto, se calhar faço qualquer coisa com as sobras de ontem. Olha, faço uma quiche com salada e tu, se não comes a salada, metes uma sopita goela abaixo que as vitaminas dos vegetais são essenciais.
Não te apetece comer isto outra vez? Faço sempre o mesmo? Pois é, filhote, a cabeça não dá para mais, a imaginação não ajuda e o tempo aperta-me os calcanhares. Que tenho de ter ideias e tenho de as fazer e tenho de te meter no banho e tenho de levar o cão à rua e não me posso esquecer das tarefas para amanhã no trabalho e ainda não tirei da máquina de secar a roupa que lá meti ontem.
A mãe faz o que pode. E às vezes pode pouco, mas o pouco que pode faz com vontade.
Quer dizer, às vezes a mãe faz sem vontade, faz porque tem de ser, faz porque ainda não enlouqueceu, faz porque parece um robot a despachar assuntos.
Olha, filho, comemos uma coisa qualquer, já vemos o que é que se arranja, pode ser que o pai tenha alguma ideia. Se não tiver comemos sopa, ou bifes, ou uma lata de atum, ou um folhado, ou qualquer coisa que não meta os nervos da mãe em franja com torres de loiça para lavar.
E sim, um dia a mãe faz como aquelas senhoras da internet e organiza a vida com pozinhos de perlimpimpim.

53

22.02.23

A sua password vai expirar. Não, não pode ser o nome do seu cão, nem do seu gato, nem mesmo do seu periquito + asterisco.

Essa password é fraca. Essa é igual à anterior. Agora não é igual, mas é muito parecida, porque deste lado está um robot, mas o menino não é parvo. Eh Eh. Essa é muito longa. Essa agora é curta demais e não tem caracteres especiais. Muito bem, já tem caracteres, mas não dá porque tem de ter um número e uma letra maiúscula. Boa, finalmente conseguiu, agora lembre-se de mudar a sua password com frequência para evitar que os mau maus lhe lixem a vida. Adeuzinho e até ao próximo esfrangalhamento de nervos.

Sou só eu que me passo da bolha sempre que tenho de criar uma password nova? Seja lá para o que for. Quando são passwords do trabalho então, se eu estiver no escritório, o melhor é que nenhum colega da informática esteja a passar naquele momento, porque vai haver violência. Eu nem quero saber se o colega é engenheiro de sistemas e aquilo é segurança IT. Vai haver, pelo menos, gritos. Porque eu acredito que as pessoas da informática conspiram contra mim, com o propósito de me fazer parecer inapta para a vida. Sou uma pessoa que cresceu à base de papel, a ver velhinhos a atualizar a caderneta na Caixa Geral de Depósitos e agora querem que eu saiba o que fazer com esta evolução toda.

Porque que é que eu não posso usar sempre a mesma password? Porque raio não pode ser o nome do meu cão e tem de ser o nome do meu cão com uma letra maiúscula + data de nascimento da minha avó paterna sem barras + asterisco. Nota importante: esta não constitui nenhuma das minhas passwords, até porque não sei a data de nascimento da minha avó. Às vezes mal me lembro da minha.

É pá leiam a retina. Eu ando sempre com os olhos. Enviem-me um código para eu tatuar no chambão que possa ser lido sempre que tento aceder a uma aplicação.

A minha cabeça não decora tudo. É uma password para cada treta: para o computador do trabalho, para o homebanking, para o computador de casa, para o Instagram, para a seguradora, para a segurança social, para as finanças e por aí em diante. Qualquer dia tenho de pôr uma password para o rolo de papel higiénico dispensar oito folhinhas.

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21.02.23

Gostava de ser um panda.

Alguma vez pararam para pensar que animal gostariam de ser se, por um qualquer acaso, pudessem escolher deixar de ser humanos?

Compreendo que a maior parte das pessoas só pensa em coisas destas depois de consumir cogumelos “mágicos” ou se fumar substâncias prescritas para a fibromialgia, mas eu, em bebé, caí no caldeirão da estupidez, pelo que penso em assuntos destes sem qualquer motivação justificada.

Lá está, cada um vive com a cabeça que tem. Já apresentei uma reclamação escrita ao criador, porque me dava mais jeito ter as nádegas da Jennifer Lopez do que a cabeça do Keith Richards, mas ele fez como o outro bispo e esqueceu-se se fazer replay à minha missiva.

É a vida.

Gostava de ser um panda. Não por serem fofinhos. Ser fofinho, no mundo animal, é uma desvantagem, porque as pessoas querem estar sempre a mexer em coisas fofinhas e eu ia ter de passar demasiado tempo a dar abraços a otários, mas, ainda assim, ser agradável à vista, ternurento e raro, faria com que me deixassem estar sossegada e não esperassem muito de mim. Eu gostava de ser um animal com o qual toda a gente se preocupa e a quem não se exigisse muito.

Os coalas são queridos e tal, mas depois as pessoas apertam com eles e lá ficam os bichos à rasca para respirar. O panda tem outro arcaboiço.

Quando era miúda queria ser um golfinho, mas os golfinhos estão sempre lixados por causa do atum, pelo que desisti desse projeto. Também gosto muito de cães, mas, por mais que sejam o meu animal favorito, não me imagino a encarnar num bicho cuja terceira principal missão na vida é lamber os próprios túbaros. A primeira (esclareço, agora que ficaram curiosos) é comer e a segunda é venerar o dono (a menos que sejam chihuahuas, os chihuahuas estão-se marimbando para toda a gente).

E é isto que tenho para vocês neste dia de carnaval. O animal que eu gostava de ser. E porquê este assunto de fezes, Cátinha? Perguntam vocês. E eu respondo: antes de mais, não gosto que me chamem Cátinha e depois, porque me dava jeito ser um panda agora, para estar a chuchar num bocado de bambu, em vez de estar a lidar com as agruras da vida e preocupada com a renda e a ter de descortinar o que raio vai ser o jantar.

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20.02.23

Como passar de um 42 para um 38 sem exercício ou dieta.

Enquanto é jovem, imprudente e imbecilmente crente num futuro melhor, compre um apartamento num terceiro andar sem elevador.

Suba e desça, suba e desça, suba e desça, suba e desça, suba e desça até à exaustão. Suba e desça para comprar pão, coentros, batatas e a porra dos ovos que parecem ser aquela coisa que uma pessoa se esquece sempre ou que nunca compra em quantidade bastante para a semana (mais valia espetar com uma galinha na varanda, é o que é).

Pare um pouco para consultar o seu saldo e confirme que não tem como mudar-se para uma moradia.

Arranje três cães e duas crianças e depois: suba e desça, suba e desça, suba e desça, suba e desça. Suba e desça com o ovinho, com o carrinho, com a mochila que leva tudo o que o bebé pode precisar caso dê consigo perdida no deserto do Fórum Almada onde não há, de facto, sítio nenhum onde comprar nada. Suba e desça com os 27 sacos de tralha que as crianças precisam para passar duas ou três horas na praia antes ou depois de o sol estar com uma intensidade que é capaz de as fazer derreter. Suba e desça, suba e desça, suba e desça. Suba e desça para passear os cães, para mudar o carro de lugar porque o deixou a 700 metros da porta de casa, para ir buscar o Batman que ficou em cima da mesa da cozinha e sem ele o puto não se vai calar o caminho todo, para ir trabalhar, para comprar as mercearias que faltam. Suba carregada de sacos e sinta que acabou de fazer duas horas de halterofilismo.

Consulte a conta novamente e perceba que, apesar de ser cautelosa com os seus gastos, chegou uma inflação e mais especulação imobiliária e agora precisa de quase meio milhão de euros para comprar uma moradia minúscula na terra de ninguém.

Chore. Chore bastante, porque gasta mais calorias do que rir.

Suba e desça mais um pouco e respire de alívio já que é por não ter uma renda de mais de mil euros que ainda pode comprar tomate cherry para pôr na salada. De outra forma andava a atum com grão (e não seria Bom Petisco de certeza). Suba e desça ainda mais um pouco e pare para jantar enquanto vê as notícias e se regala dando-se por satisfeita por descontar tanto num país como este.

 

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19.02.23

Não é um pesca likes. É uma reflexão. Não estou à procura de mimimis e de comentários encorajadores. Estou só a pensar em voz escrita. Se é que tal coisa existe.

Todos os dias me pergunto porque raio faço isto. Porque raio, com a vida que tenho, em que muitos dias mal arranjo tempo para me pentear, tiro tempo daqui e dali para enjorcar matéria para escrever mais uma balela? É pelos seguidores e porque quero ver o número crescer? Será pelo feedback imediato que me dá algum aconchego? Será pela companhia que tenho do outro lado do ecrã e que me permite sair de fininho, por breves instantes, da vida comezinha de afazeres? Será a esperança de que me abra uma janela para algo mais? Ou será porque tenho medo de perder esta aptidão criativa que julgo ter? E será que tenho mesmo uma aptidão criativa, ou serei apenas como aquelas pessoas que vão aos programas de cantigas, certas de que têm uma voz melhor que a da Adele porque a família lhes tem mentido a vida toda?

Todos os dias penso: vou deixar-me disto, porque é estúpido. E depois dou comigo a pensar no tema de forma genérica: porque é que as pessoas têm redes sociais? E nas pessoas incluo-me a mim, claro está. Porque raio as usam? É para entreter alguém? E se é, não esperam nenhum retorno? É para serem entretidas? É para que possam opiniar? O que as leva a que exponham as suas casas, as suas vidas, os seus dilemas, as suas frustrações, os seus pensamentos e opiniões, os seus filhos, os cães, os gatos, as férias e mais um par de botas? Não andaremos todos à procura do mesmo? Não assentará tudo numa vaidadezinha que não conseguimos conter e na possibilidade deste palco improvisado e virtual? Ou será a busca por um sentido de comunidade que se perdeu no trato cara a cara?

Todos dizem chegar por acaso, meros incautos, mas depois celebram o crescimento da assistência fervorosamente. Porque esse crescimento significa alguma coisa. Será que não queremos todos alguma coisa?
Se calhar ninguém quer nada e sou só eu que penso nisto, porque esmifro os assuntos até à exaustão.

Cada vez acho menos e pareço saber quase nada.

Às vezes só me custa encontrar o propósito das coisas.

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17.02.23

A Inês acordou à 1, às 2, às 3, às 4, às 5, às 6 e depois, às 7:20 deu-me uma lambada e disse TÁDÁ, assim como quem está a apresentar uma coisa boa. Eu, baralhada, pensei: quem és tu? quem é que te deixou entrar? Depois voltei a mim e fui acordar o Ricardo-só-mais-5-minutos, aspirar macacos do nariz, limpar fralda, fazer pequeno-almoço e garantir que o Ricardo vestia a roupa certa para o desfile de carnaval da escola. Não me lembro de comer, porque enquanto alguns hidratos de carbono de inseriam na minha goela eu estava a fazer contas a toda a logística que teria de garantir até ao final da manhã. O Nuno foi levar o Ricardo e eu tinha de preparar a Inês para ir para os avós.

Agora importa salientar que os bebés se estão marimbando para as nossas pressas.

Cheguei à casa dos avós e expliquei à minha sogra que tinha mesmo de ir, porque, apesar de estar de férias, ainda tinha de tratar de uma coisa urgente de trabalho. Depois de dizer que compreendia a minha sogra desatou a falar como se eu também estivesse reformada. Eu, totalmente acelerada, pensei: se a cota não se cala vai haver um velhicidio aqui. Já a conseguia ver com uma linha vermelha em baixo a dizer "Alerta CM".

Fui para casa a correr, completei o que precisava e saí a voar para ir ver o desfile. Quando cheguei ofegava como uma criminosa.

Contive o choro quando vi os filhos dos outros e só não chorei quando vi o meu, porque havia tantas crianças que entrei em pânico e temi ser a mãe inapta que não conseguia encontrar o seu descendente. O que vale é que o puto sabe bem o tipo de despistada que o trouxe ao mundo e gritou: mããããããeeee, aqui. Eu era a única pessoa a ir vê-lo este ano e deixar-me-ia de rastos imaginá-lo a olhar à volta sem encontrar a mãe. Fico logo a pensar nos anos de terapia que eu teria de bancar e no lar de merda que ele me iria pagar porque nunca ultrapassaria essa mágoa.
A frenética foi-me contendo a pieguice e por isso não cheguei a chorar quando senti que estava a abandonar uma para garantir o paga-contas, ou quando tive medo de falhar com o outro.

E é por estas e por outras que o meu olho esquerdo não para de saltar e um dia destes ainda vou secar o cabelo com a varinha mágica.

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16.02.23

Caro condutor, se não usas os piscas para assinalares mudanças de direção porque tens medo de gastar as lâmpadas; se páras o carro à balda porque tens mesmo de ir à bica e tens de ficar à porta do café já que andar te dá dores de peida; se ocupas 2 lugares de estacionamento, porque precisas de mais espaço do que uma vaca para passares pela porta do popó; se estacionas em cima do passeio impedindo a passagem de carrinhos e cadeiras de rodas, em cima de passadeiras, no lugar das pessoas portadoras de deficiência, no lugar das famílias com crianças de colo ou no lugar das grávidas; se te armas em fuçangas nas rotundas, entrando à força e tapando a circulação, impedindo que, quem vai para direção oposta, possa passar só mesmo porque, se tu tens fila, os outros também têm de estar na merda, já que não gostas de sofrer sozinho; se vais por uma faixa que não te leva para onde queres ir só para te fazeres de parvo/a e meteres o carro à frente dos outros como se a tua vida fosse mais importante que a dos outros; se achas que os outros são sempre lentos porque respeitam os limites de velocidade e segues ali, estilo cheira-cus, a fazer pressão para que acelerem ou saiam da frente só porque tu estás impaciente para chegar ao raio que te parta; se fazes ultrapassagens bruscas só para te meteres à frente da pessoa e travar porque achas que tens o poder do castigo divinó-rodoviário e queres ver se assustas ou crias um potencial acidente; se andas muito acima do limite de velocidade, especialmente em dias de chuva, armado em Fittipaldi, arriscando a vida dos outros (e não digo a tua, porque para a tua me estou bem cagando); se bloqueias a saída de outros carros e, quando te buzinam, ainda vais devagar arriscando um “é preciso ter calma”, sem saberes se a pessoa está atrasada para o trabalho ou aflita porque lhe ligaram da escola a dizer que o filho está doente; se não sabes as regras de alternância; se te pões a dar gasadas no acelerador quando está alguém a atravessar na passadeira; se és um destes amáveis grunhos, estimo bem que vás, carinhosamente, para o caralho que te foda.

Beijinhos e votos de um dia maravilhoso, para ti e para o pinheiro com o qual devias marrar.

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