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Queria ter um botão de pausa. Um botão de pausa como os dos comandos. Aquele que uso para parar o programa que me interessa para ir arrumar a cozinha e depois poder voltar para ver o resto mais descansada. Gostava de ter um botão desses para pôr o mundo em modo freeze, tudo parado, assim com os gestos suspensos, para que eu pudesse pôr ordem na minha vida.
O caos deixa-me estourada.
Vamos imaginar que tenho uma lista de dez tarefas. A meio da primeira já a segunda está em atraso. Quando começo a segunda já a terceira devia estar acabada, quando estou a começar a quarta já essa está tão no vermelho que a quinta e a sexta apitam para ser atendidas e já nem querem saber das demoras anteriores. Quanto começo a oitava já a primeira tem de ser feita outra vez e então nunca chego à nona e à décima, porque o ciclo volta ao início e eu sou arrastada novamente.
Faço listas, bloqueio agenda, faço promessas e juro a pés juntos que tenho mesmo de fazer isto ou aquilo, mas aparece sempre qualquer coisa mais premente e o isto ou aquilo fica relegado para quando der.
É o chamado nunca ver o fundo ao tacho. É como se tivesse corrido desenfreadamente para apanhar um comboio em andamento e só tivesse alcançado uma corda que pendia do vagão que leva carvão ou qualquer minério que larga pó preto, uma espécie de substância que me borra as ventas todas. Eu lá vou, agarrada com todas as forças, os pés já se levantaram do chão e o comboio não pára, segue a alta velocidade e quem quer ir nele que se agarre firme.
Isto para dizer que sinto que estou na merda e na maior parte dos dias não sei para que lado me virar.
Se calhar devia ligar a um coach ou fazer um worshop da vida só mesmo para perceber de forma certificada que estou enterrada em trampa até ao pescoço.