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Exercício de escrita

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27.01.23

Levei os meus filhos à vacina, não chorei, sinto-me uma mulherzinha crescida.

Sou daquelas mães que, não sendo histérica, chora baba e ranho quando vê os filhos bebés a ser vacinados. Quando ficam maiores passa-me. Mas bebés. Que aperto. Transtorna-me ver umas perninhas pequenas e rechonchudas, de alguém que ainda nem sabe o que raio anda cá a fazer, a levar picadelas, umas atrás das outras, sem conseguir compreender porque é que quem mais a deve amar a segura para que lhe causem dor.

Normalmente é o pai que os agarra, eu fico a um canto ou do lado de fora da sala e entro quando o mal já está feito, para pegar nos bebés e embalá-los, dizendo-lhes em surdina que a mãe nunca mais vai deixar que lhes façam tal patranha. Minto descaradamente, digo que a mãe se vai a eles (seja lá quem for), que arreio com as travessas de metal que as enfermeiras para lá têm nas ventas dos maus, que arranco para o Pólo Norte e dou um biqueiro num pinguim, o que for precioso. Faço shshshshsh ao ouvido e figura de palerma. Fui eu que os levei porque sei que as vacinas os protegem. Mas naquele momento, naquele exato instante, enquanto mostro os dentes num sorriso compreensivo e tento de forma inglória conter as lágrimas, só me apetece pegar neles e fugir, qual primata em apuros.

Ontem, levei os dois para ser vacinados. O mais velho levou uma. A bebé levou quatro. Ele tem costas largas, é robusto, com spray milagroso ele nem deu conta do que lhe aconteceu. Agora ela. Minha rica menina.

Eu ia pronta para o descalabro, mas desta vez, não sei bem como nem onde fui buscar o estômago, fiz-me rija. Aguentei-me estoicamente e, no único momento em que uma lágrima estava quase a sair do olho esquerdo, fiz tanta força que sou capaz de garantir que a lágrima voltou para dentro e o olho começou aos saltos. No fim, com a bebé mais calma e todos os trâmites despachados, senti-me corajosa, a mãe leoa que foge de pequenos répteis e insetos. Julguei que o Universo me compensaria por isso, mas afinal fui multada pela EMEL.

 
Nota: neste texto usam-se coisas que são figuras de estilo, pelo que importa esclarecer que, nenhum animal foi aleijado, até porque não há pinguins no Polo Norte.