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Exercício de escrita

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09.02.23

A todas as mães.

Escrevo enquanto tento convencer-me de que me consigo apaziguar com estas palavras. Escrevo procurando que este texto sirva para mim e para todas aquelas que o lerem.
Às vezes, o amor que temos aos meus filhos chega. Eles não precisam que estejamos sempre com a capa de supermulher vestida.


Sou mãe e não sou de ferro. Não sou invencível, ainda que acredite que consiga crescer vinte vezes o meu tamanho para defender os meus filhos. Não sou feita de um material inquebrável, sou uma salganhada de amor, beijos, gritos, olhos revirados, abraços, esforço, noites mal dormidas, dores nas costas, colo, pés estraçalhados por peças de Lego, cantigas inventadas para embalar, ombro amigo, enfermeira sem curso, Uber sem TVDE, cozinheira sem requinte e restos de slime. Faço o melhor que posso e espero conseguir chegar a velha e olhar para os meus filhos com o orgulho de saber que a minha dedicação se traduziu em bons seres humanos, com compaixão pelo outro, que se emocionam com vídeos de cães que encontram uma família e bebés que superam as suas dificuldades. Gente cuja máquina bate no peito a toque de uma espécie de manteiga mágica que os faz passar pelo mundo sem que sejam alheios a quem os rodeia.

Sou mãe, choro, sofro, dou comigo em modo Fernando Pessoa, ele tinha todos os sonhos, eu tenho todos os medos. Porque os quero tanto, lhes desejo tudo e por eles, às vezes, até acho que aprendia a voar.

Sou mãe, tomo más decisões. Digo não quando já não sei se sim era uma melhor escolha e digo sim para depois pensar que sou imbecil. Compro gomas duas horas depois de lhes dizer que se continuam assim nem a casa recebem de herança.

Sou mãe, sou esquecida. Prometo castigos que não cumpro e digo que no meu tempo era desta e daquela forma, porque já não sei que mais dizer. Viro peúgas, aspiro migalhas e arrumo brinquedos. Resmungo e garanto que não volto a fazer só para darem comigo, meio dia depois, na mesma precária condição.

Sou mãe, vivo com a culpa de nunca chegar. De dar a um e de sentir que falto com o outro.

À noite, quando os aconchego e lhes digo o quanto os amo, peço apenas que eles saibam, no fundo do coração, o quanto a mãe sempre os quis.

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