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A Inês acordou à 1, às 2, às 3, às 4, às 5, às 6 e depois, às 7:20 deu-me uma lambada e disse TÁDÁ, assim como quem está a apresentar uma coisa boa. Eu, baralhada, pensei: quem és tu? quem é que te deixou entrar? Depois voltei a mim e fui acordar o Ricardo-só-mais-5-minutos, aspirar macacos do nariz, limpar fralda, fazer pequeno-almoço e garantir que o Ricardo vestia a roupa certa para o desfile de carnaval da escola. Não me lembro de comer, porque enquanto alguns hidratos de carbono de inseriam na minha goela eu estava a fazer contas a toda a logística que teria de garantir até ao final da manhã. O Nuno foi levar o Ricardo e eu tinha de preparar a Inês para ir para os avós.
Agora importa salientar que os bebés se estão marimbando para as nossas pressas.
Cheguei à casa dos avós e expliquei à minha sogra que tinha mesmo de ir, porque, apesar de estar de férias, ainda tinha de tratar de uma coisa urgente de trabalho. Depois de dizer que compreendia a minha sogra desatou a falar como se eu também estivesse reformada. Eu, totalmente acelerada, pensei: se a cota não se cala vai haver um velhicidio aqui. Já a conseguia ver com uma linha vermelha em baixo a dizer "Alerta CM".
Fui para casa a correr, completei o que precisava e saí a voar para ir ver o desfile. Quando cheguei ofegava como uma criminosa.
Contive o choro quando vi os filhos dos outros e só não chorei quando vi o meu, porque havia tantas crianças que entrei em pânico e temi ser a mãe inapta que não conseguia encontrar o seu descendente. O que vale é que o puto sabe bem o tipo de despistada que o trouxe ao mundo e gritou: mããããããeeee, aqui. Eu era a única pessoa a ir vê-lo este ano e deixar-me-ia de rastos imaginá-lo a olhar à volta sem encontrar a mãe. Fico logo a pensar nos anos de terapia que eu teria de bancar e no lar de merda que ele me iria pagar porque nunca ultrapassaria essa mágoa.
A frenética foi-me contendo a pieguice e por isso não cheguei a chorar quando senti que estava a abandonar uma para garantir o paga-contas, ou quando tive medo de falhar com o outro.
E é por estas e por outras que o meu olho esquerdo não para de saltar e um dia destes ainda vou secar o cabelo com a varinha mágica.