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Não gosto do nome Filipa. Nunca soube se não gosto porque não gosto do som e da composição, se esta antipatia se deve ao facto de ser o meu segundo nome e ouvi-lo sempre significou que a coisa já tinha azedado para mim. Não ajuda que duas das Filipas que conheci pessoalmente fossem umas ranhosas e outra tivesse aquela touca com os berlindes meio avariados.
Quando a minha mãe gritava Cátia Filipa até os meus ossos se punham em sentido, sou capaz de jurar que as cartilagens batiam continência. Os músculos ficavam retesados e quando chegava ao pé da minha mãe aparentava já ter o lombo massajado com metade da dose a administrar. E não, nunca levei uma sova, levava umas galhetas e umas chineladas. Era o respeito e o saber que quando a minha mãe dizia que me aplicava duas chineladas no rabo, ela aplicava mesmo duas chineladas no rabo. A minha mãe nunca contou até 3 nem até 10. Dava a receita uma vez, a gente às vezes não apontava o medicamento...
De qualquer modo, para não ferir os sentimentos das Filipas esclareço que gosto ainda menos do nome Cátia. É um nome de quem nunca vai ser grande coisa. Jamais haverá uma Ponte Cátia não-sei-quê ou alguém morará na Praceta Cátia não-sei-quantos.
(E agora lixei-me com as Cátias e com as Filipas.)
Talvez seja por esta razão que sempre soube que quando tivesse filhos eles não teriam dois nomes próprios. E assim foi. Ricardo + apelidos e Inês + apelidos.
Foi quando o meu filho fez borrada pela primeira vez e eu tive a necessidade de gritar o nome dele que senti falta daquela palavra, como se o chamamento ganhasse outra relevância com um segundo nome. Como se aquele nome, que, noutra circunstância não serve para nada, ganhasse destaque. Um Ricardo Miguel, um Ricardo Manel, Um Ricardo Mateus. Sei lá.
É por isso que quando ele me dá os azeites é Ricardo Manel quando calha. É por isso que ela é sempre Inês Maria quando está para rezingar. Não são nomes de registo. São nomes de combate.