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Exercício de escrita

Princípio de Karenina, Afonso Cruz

Livros de 2022

06.01.22

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É difícil apontar qual é a pior coisa que nos pode acontecer na vida, mas diria que passar por ela sem a ter vivido deve estar no topo da lista. É lamechas, bem sei. Está taco a taco com o apreciar das pequenas coisas, também sei. Mas não há como fugir ao que é verdade.

Deixar que os medos, os receios e o comodismo nos roubem aquilo que só podemos ter uma vez sabe a desperdício.

Esta história de Afonso Cruz é, para mim, sobre isso. Para mim porque já se sabe que as histórias, como as músicas, dizem alguma coisa de especial e diferente a cada pessoa que as lê.

Esta é a história de um pai que conta uma vida à sua filha. Há um filho que aprende o mundo como o pai lhe ensina. Uma mãe frágil. Uma esposa eficiente. Um amor que entra sem ser convidado e que muda aquilo que o mundo representa.

Uma história tão bonita para começar as leituras de 2022.

Aqui ficam algumas das frases que sublinhei para poder voltar ao livro e saber de onde me recordo de as ter lido:

“O som do Outono ouve-se com os sapatos. Quando as solas partem as folhas secas das árvores”.

“Os anos são eficazes a passar.”

“Mas a vida que vale a pena ser vivida precisa de desequilíbrio.”

 

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Noites azuis, de Joan Didion

Livros que li

01.01.22

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Honestidade. Esta é a palavra que me ocorre quando penso neste livro. O discurso é ocasionalmente desconexo. Não há um fio condutor claro, mas há sentimentos que persistem. Umas vezes medo, outras a dor da perda, um certo nevoeiro que atenua a dor e deixa que as memórias entrem para que quem desapareceu possa ainda estar presente por breves instantes. A irregularidade do texto enaltece a franqueza com que foi escrito. A necessidade de contar um sentimento sem a preocupação de polir as palavras.

Já abraço muitas vezes o meu filho. Sempre o fiz. Somos assim, pessoas de abraços. Eu só com ele. Ele com todos os que gosta e mais ainda comigo. Enquanto lia este livro abracei-o ainda mais. Precisava de lhe sentir perto. De saber que tenho o cheiro dele bem gravado em mim.

 

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Livros de outubro 2021

04.11.21

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Encostados à pilha de livros que estou a pôr de lado para 2022 – ambições de leitora com mais olhos que barriga – estão os três livros que li em outubro deste ano.

Têm sido tempos desassossegados e se umas vezes falta tempo, outras falta cabeça e outras ainda falta cabeça e tempo para mais.

 

Assim – Livros de outubro:

“Filho da mãe” de Hugo Gonçalves

Adorei. Fiz inclusivamente um post dedicado a este livro.

Maravilhoso.

 

“Mary Poppins” de P.L. Travers

Desde que vi o filme "Em busca do Sr. Banks" que queria muito de ler este livro. Acho sempre extraordinário quando um autor consegue transformar as mágoas da sua vida em algo encantado.

Anos depois de ver o filme e depois de passar à frente desta vontade tantos outros livros, peguei na sra. de guarda chuva com cabeça de papagaio.
A imaginação de P.L. Travers é muita e maior ainda dado o seu tempo.

Dei por mim a querer também uma Mary Poppins para trazer cor e ordem à minha vida.
Aprendi com esta personagem que não são os sorrisos constantes e o forçar de uma alegria que não existe que nos faz amar e ser amados. É o respeito que temos pelas nossas convicções, é o olhar para o mundo que nos rodeia e procurar o melhor, é estar, é ser um porto seguro. É pensar menos, fazer mais e não dar demasiada importância a coisas que não o merecem.

 

“Como falar para as crianças ouvirem e ouvir para as crianças falarem” de Adele Faber e Elaine Mazlish

Gostei deste livro. Ajuda-nos a compreender porque razão nem sempre conseguimos chegar a dialogo com os nossos filhos. E são coisas muito pequenas, que entre o torbilhão que são as nossas vidas, acabam por passar despercebidos. É quando paramos para olhar que pensamos: caramba, eu faço isto tantas vezes. Transmite informação clara e objetiva, sem grandes floreados e com uma noção clara que me agradou particularmente: pais e filhos são humanos, por isso erram. E é com esta premissa que não há culpa a distribuir. Há técnicas. Há ideias. Há sugestões. Há exercícios. Há a noção de que a evolução de constrói devagar. Atrevo-me a dizer que é útil não só na nossa relação com os nossos filhos, mas com as pessoas em geral.

 

Livros de Setembro 2021

02.10.21

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Você nunca mais vai ficar sozinha

Tati bernardi

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A escrita da Tati Bernardi arrebata-me sempre. A sanidade na loucura, a loucura na sanidade e a gargalhada inesperada. Neste livro são tantos os pontos de verdade que se os fosse sublinhar riscaria todas as folhas. Não tive mãe a vida toda, mas sempre senti (e sinto até neste momento em que escrevo) que sou a eterna filha da minha mãe. O reflexo do que ela criou. Que me condeno por aquilo que ela acharia de errado. Que me engrandeço quando sei que abanaria a cabeça em satisfação. Sou mãe e filha ao mesmo tempo e dou comigo a pensar, tantas e tantas vezes, que, pense o que o meu filho acabe por achar se mim, eu estarei lá sempre, mesmo quando ele não precisar.

 

Um fogo lento

Paula Hawkins

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A vida não são só clássicos e obras que nos questionam o pensamento. São precisas histórias bem contadas com linguagem escorreita e clara. Daqueles que a pessoa consegue ler enquanto toma conta do filho a fazer patifarias sem ter de voltar atrás vinte vezes.

Um livro que se lê num ápice. Bem escrito, bem contado, com as reviravoltas necessárias.

Dos três livros da autora este pareceu-me o mais previsível. No entanto foi uma excelente escolha para leitura à beira da piscina.

 

A biblioteca da meia noite

Matt Haig

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A escrita é clara e agradável, sem malabarismos linguísticos. O autor tem uma mensagem para passar e penso que o consegue.

O conceito essencial da história está na valorização das pequenas coisas e na aprendizagem de que não existe uma vida perfeita.

Gostei da originalidade da biblioteca que permite viver outras vidas.

É um livro que se lê bem. Um bom livro para repensar as pequenas coisas esquecidas. Um bom livro para quando nos debatemos com momentos menos bons e nos deixamos emaranhar pela culpa e por arrependimentos.

 

Beautifull World. Where are you

Sally Rooney

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Há para mim um certo encanto na escrita da sally rooney que me prende completamente. É como se estivesse sentada com uma amiga no café a ouvi-la contar-me o que sabe. E eu ali fico, embevecida, a virar páginas.

A versão em português sairá até ao final do ano, mas ao passar pelo livro não resisti e trouxe em inglês.

Quatro personagens. O que pensam, como agem, os seus sentimentos em relação a si mesmos e aos que mais gostam, as dúvidas, os medos, as incertezas, o receio de falhar com o que são e com o que os outros esperam, os seus pensamentos sobre o mundo que os rodeia, o dissecar da forma perversa como o mundo valoriza o que menos importa.

 

Vista Chinesa

Tatiana Salem Levy

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Tão, mas tão bem escrito que as imagens do que aconteceu estão claras e desagradavelmente vívidas na minha mente.

Um livro que merece ser lido por múltiplas razões: porque a vítima tem o seu tempo, porque o trauma é ultrapassado de forma diferente por cada um, porque a dor não é o que vemos, é o que o outro sente, porque a nossa dor causa aos outros dor, porque não chega encontrar um culpado, é preciso encontrar “o” culpado, porque o que acontece passa a fazer parte da pessoa, acaba inserido no seu quotidiano e nas decisões mais pequenas, mas mais do que tudo porque a culpa nunca é da vitima, já chegam os porquês que carregará para sempre pela certeza de que não é possível reescrever o passado.

"As menageiras da esperança", de Jojo Moyes

22.07.21

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Um livro muitíssimo bem escrito. Uma história que prende, seja pelo que aprendemos, pelo romance, pela amizade que une as personagens principais. Trata um tema que a meu ver continua muito presente nos dias de hoje - lamentavelmente -, um problema que se chama ignorância e como a falta de cultura, de exercício do pensamento nos mantém reféns de costumes obsoletos que nos prejudicam a nós e a quem nos rodeia.
Retrata algo que, cerca de noventa anos mais tarde - nos dias de hoje - volta a acontecer, com ideias tacanhas de que um livro pode ser nefasto para a conduta de uma pessoa.
Um livro nunca pode ser nefasto se for manuseado adequadamente. Um livro serve para nos fazer pensar e compreender o que está certo e errado. Serve para gostar, não gostar, aprender e concordar ou discordar com a mensagem que nos passa. Serve sempre para nos fazer melhores, é a nossa natureza e princípios que ditará a forma como apreendemos o que nos diz.

"A cadela", de Pilar Quintana

18.06.21

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Não sei com quem é que é preciso falar, se é com o presidente da junta, se é com o presidente da Câmara ou o coise, mas eu quero os livros desta mulher todos traduzidos.
Escrita escorreita, clara, despretensiosa. As personagens retratadas com os contornos retorcidos do ser humano, sem romancear.

Damaris queria ser mãe e não conseguia. Um dia uma senhora conhecida ofereceu-lhe uma cadelinha bebé, que ainda precisava de ser alimentada a biberão porque a mãe tinha morrido. Damaris apega-se à cadela e tem-lhe um amor imenso, até que a cadela se torna independente e desapegada.

Na minha perspetiva não é um livro sobre o apego das pessoas aos animais, mas mais sobre a necessidade que as pessoas têm de se apegar a algo onde possam gastar o amor que têm para dar e a frustração quando o destinatário desse amor não corresponde na medida desejada.

"A pérola", de John Steinbeck

17.06.21

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Uma pequena história com contornos - na sua mensagem - mais atuais do que seria desejável. Publicado em 1947, o que representa quanto à conduta humana persiste: a avareza, o aproveitamento da ignorância, o desejo de uma vida melhor, a importância - válida - do que o dinheiro nos pode trazer.
Foi o primeiro livro de Steinbeck que li, acho que foi uma boa escolha para começar.