A Jennifer Lopez não aspira a casa.
A Jennifer Lopez não aspira a casa. Não lava a loiça. Não faz as camas. Não trata de máquinas e máquinas de roupa. Não estende nem apanha a roupa. Não se debate com falta de espaço para os sapatos, para os casacos e onde enfiar a roupa de desporto que não se consegue dobrar decentemente de forma nenhuma. Não apanha os transportes para o trabalho às sete de manhã. Já o fez, em jovem, sei-o bem porque lhe comprei há vinte anos o álbum. Ela já não vai “on the 6” para lado nenhum. Vai de Mercedes, BMW ou Bentley, qualquer um deles conduzido por um motorista. A Jennifer Lopez não leva os filhos à escola, não se apoquenta com o jantar deles nem com noites acordada quando eles chamam porque têm medo do escuro. Para isso tem lá amas que cuidam desses afazeres porque ela tem de acordar com boa pele para mais um filme, um videoclip ou uma sessão fotográfica. A própria admitiu, há uns anos numa entrevista à Ellen Degeneres, que o filho lhe tinha perguntado se seria melhor marcar uma hora na agenda dela para que pudessem estar algum tempo juntos. No mundo de quem tem posses para tal, tudo isto é normal. A JéLó tem acesso a uma vida que nós, mulheres anónimas e comuns mortais, não temos.
Há um ou dois anos recordo-me de ver um programa em que uma PT de celebridades dizia que se orgulhava mais dos anónimos que se esforçavam por ter uma vida saudável e um corpo bonito, do que as celebridades que precisam do corpo que têm para a sua profissão. Precisam dos PTs, dos cremes, das injeções, das massagens, dos tratamentos preventivos que custam os olhos da cara. Às vezes vejo aqui no Instagram pessoas que não são celebridades e que, para manter o corpo que têm, gastam centenas de euros por mês. Tal não é exequível para o comum dos mortais. Para quem tem a renda para pagar e filhos para criar. Ter 52 e parecer ter 32 pode ser uma coisa que nos espanta, mas a mim deixa-me sempre de pé atrás, especialmente quando a pessoa aos 32 tinha rugas de expressão que aos 52 não lá estão. O rosto da JéLó está mais liso agora que em 1999.
Não me interpretem mal, eu gosto muito dela, é um mulherão fantástico e quem me tira a minha JéLó no treino diário, tira-me uns vinte agachamentos, que eu penso na bufunfa dela e então invisto na minha. Mas sei que há um fosso que nos separa e que esse abismo não se resolve com #mindset #foco ou #nopainnogain .
Se eu gostava de ter um corpo daqueles aos 52? Eu gostava de ter um corpo daqueles aos 18. Não tive. Mas parece-me mais importante, conforme envelheço, aceitar que o corpo muda, que mostra a passagem do tempo e trabalhar, dentro do que me é possível, para estar bem por mais tempo que possa passar. Parece-me mais saudável do que criar uma ilusão de juventude eterna.
Inspirador não é ver um corpo maravilhoso numa pessoa que tem acesso a tempo, treinos, produtos e tratamentos sem fim e que o assegura porque dele depende muito da sua vida. Inspirador é encontrar quem, não precisando da sua imagem, por entre as tarefas e responsabilidades do dia a dia, encontra trinta minutos para cuidar de si.