Adeus 2022, gostei de ti
Aprendi há muitos anos que o maior feito que conseguimos alcançar no fim de um ano é chegar vivo e sem mazelas de maior ao último dia. Contamos assim com mais trezentos e tal dias de momentos bons, outros maus, horas a lavar loiça, a estender roupa, a aspirar o chão, a ir às compras, a preparar as mochilas dos miúdos para a escola, a passear os cães, a fazer refeições, a descabelar-nos por temas menores, a controlar a vontade de dar com uma toalha encharcada nas ventas de centenas de pessoas e a desejar que um raio atinja a mona dos velhos que molestam as mangas no supermercado. Vejo pouca gente a dar valor a estas pequenas coisas que, na verdade, somadas, descrevem muito os dias da maioria de nós.
Sobrevivemos a mais um ano de logística com apontamentos de alegria e quando a vida não nos puxa o tapete isso é o melhor que podemos levar.
Choramos com as contracurvas dos outros, temos medo que nos aconteça o mesmo e vamos buscar forças onde parece não haver mais nada para continuar a andar para a frente.
Chegamos ao fim de mais uma pilha de listas com metade das tarefas feitas e a certeza de que é nos próximos trezentos e tal dias que a coisa se vai dar. No fim, enquanto enfardamos as passas empurradas por espumante barato, fica o desejo de que, se tudo correr bem, venha um ano igual ao que passou. Sem nos perdermos a nós e àqueles que amamos. O resto são bónus.
Este 2022 não me puxou o tapete e ainda me trouxe o melhor dos presentes, fez de mim mãe pela segunda vez e a minha vida ficou mais completa. Preencheu o que afinal faltava na minha casa, na minha família, neste coração de pedra que trago ao peito. Sinto que 2022 foi inchar, desinchar, trocar fraldas, dar de mamar e controlar a máquina que está dentro do peito para que não rebentasse de alegria.
Adeus 2022. Gostei de ti.