Agosto às 5
Dia 3
Se nestes meus 39 anos de vida alguém me tivesse dito que eu ia dormir noites seguidas abraçada a uma embalagem de ervilhas congeladas, eu diria que essa pessoa estava ébria, drogada ou com as sinapses severamente comprometidas. Mas, eis que aqui estou confessando que, nas últimas três noites, descobri a pólvora, que é como quem diz, descobri a leguminosa congelada como forma de arrefecimento global do corpo em forma de esfera que presentemente possuo. Têm sido noites quentes, sem ar condicionado, janelas escancaradas e a casa sem dar tréguas, mantendo-se quente apesar da brisa fria que se sentia lá fora. Noites a dormir uma hora e meia, com sorte duas. Noites sem posição para estar, com a nítida sensação de que a bexiga me vai saltar como a rolha de uma garrafa de champanhe e depois eu entro em auto combustão. Vi todas as comédias românticas, tantas que à tarde já me pus a papar documentários de assassinos americanos, só mesmo para dar algum equilíbrio à informação que recebo. Depois Eureca, no final da semana passada, munida daquilo a que eu chamaria a filha de uma grandessíssima égua de uma neura, pensei para comigo: se calhar o melhor é ir buscar qualquer coisa congelada e espetar com aquilo em cima de uma parte aleatória do corpo. Resultou. O Nuno acordou para dar comigo desgrenhada, a babar ligeiramente do lado esquerdo porque estava a dormir de boca aberta, meio entrançada com uma chouriça em padrão de estrelas e um pacote de ervilhas congeladas entre os braços.
Dormiste melhor assim?
Eu grunhi qualquer coisa. Porque eu não tenho competência para emitir vocábulos inteligíveis nos primeiros 15 minutos depois de acordar, e mesmo na hora que se segue é preciso ter alguma atenção à pergunta apresentada.
Então é isto. De noite acordo, vou fazer o meu 2167468464 chichi, vou comer uma bucha, passo pela arca, levo as ervilhas e vou abraçar-me a elas até que o despertador toque, ou que a bexiga peça socorro outra vez.
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