Agosto às 5
Dia 7
Quando acordo de manhã, atrás de mim está o Ricardo. Veio para a nossa cama porque coisas que nem ele sabe bem. Está deitado de bruços, braços abertos, qual Cristo sem cruz. Ao acordar dirá que ELE estava muito apertado.
Eu podia ficar na cama. Não tenho tarefas nem obrigações. Só tenho de fazer tudo o que está ao meu alcance para que a minha hóspede esteja bem e se mantenha onde tem que estar até que chegue a altura certa. Mas sou um bicho de hábitos, tenho de ter rotinas para sentir a cabeça descansada e equilibrada. Não me dou bem com um dia acordar às 12 e outro às 11 e hoje almoço e amanhã nem por isso. Preciso sentir-me orientada mesmo quando estou no meio do caos. De outra forma fica tudo enevoado, esqueço-me do que tenho para fazer, sinto-me numa permanente atitude de que-se-lixe que não me faz sentir bem. Quando me foi dito que tinha de ficar em casa, repousar e pensar em mim e na miúda foi a primeira coisa em que pensei: tenho de, no meio das limitações, ter as minhas rotinas, mesmo que essas venham a ser escavacadas logo que sodona princesa venha berrar cá para fora.
Por isso levanto-me cedo. Tomo o pequeno-almoço em família. Leio. Tomo banho. Visto qualquer trapo elástico onde consiga espremer esta bola que trago comigo. Ajudo o pequeno a preparar-se para que vá ter um dia de jardim com o avô. Sento-me a escrever (mesmo que me falte assunto ou vontade). Recosto-me a ler e passo por todas as posições de que o corpo se queixa (deitada, sentada, recostada, meio de lado). Vou às redes sociais ver a vida de quem está em forma na praia. Sinto amiúde uma forte vontade de que alguém enfie o algoritmo no cu do Zuckercoisinho. Canso-me da leitura, das televisão e das redes sociais, então penso nas rotinas para depois, penso no parto. Almoço. Leio. Vejo um documentário. Leio. Cirando pela casa porque os rins já estão fartos de todas as posições. Volto a ler. Entretanto, entre leituras intervaladas, espero que o pequeno chegue para ter o que fazer e depois queixar-me de que ele chegou e já me está a dar que fazer.
Janto.
Fazemos qualquer coisa em família.
Leio para ele.
Leio.
Abraço-me a um pacote de ervilhas congeladas.
Durmo até que a bexiga peça socorro outra vez.
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