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Exercício de escrita

Agosto às 5

Dia 9

12.08.22

Gostaria de usar a publicação de hoje para falar de um flagelo que acomete uma fração significativa da população adulta. Fala-se muito de síndromes e perturbações de toda a estirpe, mas não vejo ninguém a abordar a condição da gaveta-quase-fechada.

É um problema que agrava com o tempo e a pessoa, à semelhança do que acontece com a perda de memória a curto prazo, a demência e o Alzheimer, nem se apercebe de que o faz. Só que nesta síndrome é pior, porque não há medicação.

A pessoa está a fazer a sua vida normal, sem contratempos e capaz de verbalizar ideias completas, depois recorda-se de que precisa de uma coisa de um armário, abre a gaveta sem dificuldades, retira o que precisa, mas o movimento do braço que conclui o fecho do móvel, colocando como estava, não acontece. A gaveta fica, invariavelmente, a dois dedos de ficar fechada.

Começa com gavetas e, no estado mais avançado, espalha-se para guarda-fatos, em que as portas ficam sempre escancaradas.

Habita, em minha casa, um adulto portador destra síndrome. Confesso que numa fase inicial fui insensível, dizia coisas como: porque é que esta merda fica sempre assim?,  Ficas com as falangetas entrevadas de empurrares a gaveta toda?, ou Mas tu tens medo da puta da gaveta, ou quê? Mas depois fui estando atenta, fui compreendendo os sinais. A pessoa não o faz por mal ou desmazelo, fá-lo porque não consegue que o seu corpo desempenhe a função em pleno.

Achei essencial falar deste tema para vos dizer que temos de ser pacientes, que podia ser pior, que podia deixar migalhas na cadeira, ou o copo de deite com um restinho lá dentro que depois de seco deixa aquela auréola que custa a limpar. Há coisas mais enervantes, como não deitar fora cuecas com buracos. É preciso olhar para a gaveta meio fechada.

 

Se conheces, padeces ou vives com alguém que sofre em silêncio com esta ou outra condição similar, não te acanhes, desabafa nos comentários. Juntos não nos passamos da mona.

 

 

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