Agosto no fim
Fomos fazer uma última ecografia. Ela pôs a língua de fora, de forma nítida, quase parecia intencional. Eu pensei: pronto, não lhe falta nada para responder como o irmão.
À saída a médica ecografista disse-nos: boa sorte, vemo-nos daqui a dois anos. O Nuno respondeu: na-na-na-na-na-não não-não, se tudo correr como previsto só a encontro, por acaso, num shopping ou coisa assim.
Então a médica contou-nos do casal que tinha três filhos, a mulher engravidou uma quarta vez e quando fizeram a primeira eco descobriram que iam ter trigémios. Ou seja, passavam diretamente de 3 para 6 filhos. O pai, quando ouviu a notícia, caiu inteiro no chão.
De regresso eu dei comigo a pensar como teria sido a vida daquela mulher nos primeiros meses, quando os filhos mais velhos saíam para a escola, o marido para o trabalho e ela ali, suponho que assustada ou absorvida num completo modo de sobrevivência, a atender, sozinha, a três bebés, que querem comer ao mesmo tempo, que precisam de fraldas trocadas, que têm cólicas, que precisam tanto de colo quanto de mama.
Há vidas do caneco. E sendo do caneco, não quer dizer que são más. São só mais desafiantes.
Há vidas do caneco. Mesmo.
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