As grávidas são uma chatice.
Vomitam. Enjoam. Metem na cabeça que não comem coisas. Só papam saladinha se tiver sido passada por amukina ou demolhada em água com vinagre. Dizem que é da toxoplasmose ou lá o que é que arranjam para se pôr com esquisitices. Estão sempre enfiadas em consultas e ecografias e análises e o diabo a quatro. Falam em semanas e decoram o catálogo de carrinhos da Chicco para saberem qual das viaturas tem um abs mais adequado para não derrapar na calçada. Queixam-se que a roupa não serve e os pés incham, coisas que se resolvem depressa comprando o número acima. Não gostam do frio, mas passam mal com o calor. Passam à frente nas filas. A pessoa vai comprar dois papo secos, vê a grávida a chegar e pensa logo que está a ser castigada pelo Universo, os olhos arregalam em temor como quem acabou de ver ébola passar. Ficam sempre à espera que alguém lhes ceda a cadeira e ainda têm lugar de estacionamento privilegiado no centro comercial, como se estando elas boas para cirandar de loja em loja, não possam ficar num lugar a duzentos metros da entrada. Demoram a subir escadas. Irritam com aquele respirar ofegante e aquela frase do “deixa-me só recuperar o fôlego”. Ficam com placentas descoladas e com contrações antes de tempo. Têm de ser tratadas como nenúfares e uma pessoa tem de estar sempre com cuidados não vá as meninas ficarem sensíveis e desatarem a chorar ou a sentir-se incompreendidas. Culpam tudo nas hormonas e no momento especial. Deixam trabalho pendurado quando vão dar à luz, ou ainda pior, quando vão mais cedo para casa, coisa que não havia lá no tempo da rica mãezinha que trabalhava ao campo, paria a meio da apanha da fruta e depois de espremer a criança cá para fora ainda enchia duas caixas de Bravo de Esmolfe enquanto tinha a cria agarrada à teta esquerda. Benditas as grávidas de antigamente. Não tinham cá frufrus. Morriam mais, elas e as crianças, mas também era assim que se fazia vingar os mais fortes, a seleção da espécie. As grávidas são uma chatice, mas tirando a parte de incomodarem tanto, até são giras lá longe, com o seu andar de patas, meio metidas a especiais como se fossem a única forma de manter a espécie humana na Terra.