Desafio dos pássaros 3.0 - Tema 2
A reunião PEE ia ser na casa da Branca de Neve. Ariel foi a primeira a chegar, situação que desagradou a anfitriã, já que a princesa dos mares fazia corta mato pelo Tejo e chegava à Moita encharcada. Os cabelos ainda pingavam bastante e deixavam poças de água por onde passava, coisa que ensandecia a dona da casa, que ainda estava a pagar o empréstimo para obras que usou para comprar aquele chão flutuante de qualidade mediana.
- Ariel, põe-te na alheta para o quintal, serve-te de um conhaque e mete a mona ao sol. A ver se secas essa trunfa farta que até me mete nojo! – Branca de Neve não sabia o que a arreliava mais, se o facto de aquela cabra aquática ter uma vida aparentemente livre de stress e por isso não apresentar qualquer queda de cabelo, se a inocência em vinha de alhos de burrice, que acalentava aquela falta de noção absoluta. Enquanto as outras princesas apareciam com os filhos agarrados as saias, Ariel tinha as irmãs que lhes ficavam com os miúdos. Parou a olhar para Ariel, que estava que cheirava as buganvílias e imaginou-se a acender o carvão e a grelhar-lhe a cauda.
O toque da campainha arrancou-a desse quase sonho. Chegavam Pocahontas e Cinderela, ambas com as crianças agarradas às pernas.
- Meninos, a tia Branca preparou guloseimas e colocou tudo numa mesa no quintal. – a criançada ficou histérica saiu a correr, quais animais selvagens.
- Mãezinhas, conhaque ou Whiskey? – perguntou Branca erguendo as duas garrafas.
- Um de cada. – respondeu Cinderela, sendo que Pocahontas acenou em confirmação de que o seu pedido era igual.
O grupo PEE representava as “Princesas em Estrume”. Mulheres que um dia haviam feito parte do imaginário encantado de muitas gerações e que hoje, depois do pífio “felizes para sempre” viviam enredadas na vida desgastante e comezinha de sempre.
Os príncipes, depois do beijo do verdadeiro amor, queriam ver a bola, evitavam trocar fraldas e achavam que as fases das mulheres duravam muito tempo.
Criaram o grupo depois do divórcio da Bela com o Monstro. Coisa que rolou água já que nas partilhas o tipo não queria rachar 50/50 os bens adquiridos depois do matrimónio.
Ouviu-se algo a apitar.
- Merda, são as bolachas que tenho no forno. Fiz normais para os miúdos e para nós com ervas aromáticas. – piscou o olho. Todas sabiam o que eram aquelas ervas.
Ariel estava a entrar na sala quando sentiu o cheiro e viu Branca passar com uma bandeja de bolachas.
- Meninos, bolachinhas acabadas de fazer.
Ariel esbugalhou olhos.
- Branca, chamon para as crianças!?
Branca nem se deu ao trabalho de responder. Não lhe faltava vontade de os sossegar, mas não era choné para isso. Até porque se um dos miúdos respondesse mal à aromatização, depois como é que se explicava aquilo em contexto judicial?
Foi quando Ariel a viu abrir uma segunda porta de forno que se apercebeu. Muito se cozinhava naquela casa para haver eletrodomésticos em duplicado.