Dezassete
Detesto incomodar. Detesto sentir que estou a ocupar espaço na vida de outra pessoa, como uma pedra que está a forçar a sua entrada no sapato. Detesto impor as minhas necessidades, perguntando se podem fazer isto ou aquilo por mim, deixando as pessoas numa posição chata de ter de dizer que não.
Habituei-me desde miúda a fazer as coisas por minha conta, se conseguisse conseguia, se não conseguisse é porque não era para ser. São más experiências passadas, somadas ao orgulho e ao receio de me colocar numa situação desconfortável. É um bolo em camadas de incómodo. A falta de jeito para pedir, o saber que estou a ocupar espaço e o mau estar que me causa quando do outro lado me deixam bem claro o peso do meu pedido.
Por isso quando terminei o meu manuscrito em junho só pedi cá em casa para ler. E pedi porque é quem mais me incentiva e porque nunca se sabe se sou a próxima J. K. Rowling e, por obrigações de matrimónio, tenho de dividir as mais-valias. Então não se pode queixar de ler meia dúzia de páginas.
Tive pessoas muito simpáticas que me desejaram sorte, que me disseram que se precisasse tinham quem lesse, que me deram contactos. Agradeci e disse: deixa lá estar, eu vou marrar com isto sozinha.
Acabei a levar na cabeça em casa, porque não pode ser assim, porque tenho de aproveitar quando alguém tenta ajudar. Eu nada.
Passaram-se quase seis meses, matutei muito e decidi chatear duas ou três pessoas, pedir uma opinião a quem percebe alguma coisa disto das palavras e das histórias. Ter opiniões sinceras e duras sobre o que está feito. Fiz umas mensagens sem jeito. Custou-me bater à porta como os funcionários da tv cabo e dizer: vim importunar, posso?
Tive sorte, ou a maturidade tem-me ensinado a ler melhor quem me rodeia e vou dando comigo a encontrar gente de uma generosidade que não sei se mereço.