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Exercício de escrita

Doze

19.11.22

Nasci com 5 kg, no dia 5 de junho, às 5 da tarde. Diziam as sabichonas que se calhar vinham gémeos. Ora se havia outro, lamento informar, mas comi-o.

Nunca fui obesa, mas sempre fui tendo uns quilitos a mais. Na adolescência, com a mudança do corpo e a perda da minha mãe era na comida que encontrava alegria. Hoje sei que não comia bolos, comia a minha tristeza.

Foi nessa altura que desenvolvi o sentido de humor. Aprendi que mais vale rir do que nos apoquenta. Ficar só aporrinhado não tem qualquer efeito medicinal nem resolve o que quer que seja.

Eu era a engraçada, a que contava piadas, a que se lembrava das coisas mais inusitadas. Lembro-me de um rapaz se vir apresentar a mim e de lhe perguntar qual das minhas amigas ele queria conhecer. A assunção direta de que eu jamais poderia ser uma pessoa de interesse.

Quando entrei para a faculdade, entre curso, tabaco e três empregos part time, perdi 12 quilos, entrei para o clube dos 50s e só voltei a sair de lá (temporariamente) quando engravidei do meu filho.
Habituei-me a viver no mundo do 36/38 e tenho-me esforçado para lá ficar, porque é nessa condição que, apesar de não ter o corpo escultural que gostaria, me sinto bem.

Tenho alturas em que corro mais, outras treino em casa, outras vou mais vezes à natação. Faço desporto porque me aligeira a cabeça e por efeito secundário estreita-me o lombo.

Esta semana escrevi sobre umas calças 42, comprei-as pq as que tenho não me servem. Comprei-as de contravontade pq não quero vestir o 42. Comprei só um par pq quero o meu corpo pré gravidez de volta. Estes meses têm sido de habituação, desprovidos de rotinas, a toque de caixa de quem ainda nem segura a própria cabeça. Mas está a chegar o momento de me meter na linha, de me esforçar um pouquinho mais, de escolher melhor o que vai para o prato, de guardar as iguarias maravilha para um dia de descontração em vez de os manter na fatia mais larga da roda dos alimentos.
Não preciso porque as calças são grandes, preciso porque quero subir as escadas sem ficar cansada, porque quero fazer caminhadas e correr atrás dos miúdos sem estar sempre a dizer que já não tenho idade para isto.