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Exercício de escrita

Duas crises e uma pandemia

24.10.22

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Para o ano faço quarenta anos e por essa altura levarei no lombo duas crises e uma pandemia.
São projetos que se adiam porque a incerteza está sempre à porta e atrás dela o medo de perder tudo aquilo para o qual trabalho. Ficam em espera a casa nova com um pouco de jardim para as crianças brincarem, o carro novo, a viagem de que ando a falar há dez anos. Com sorte mantenho um emprego que me dá alguma estabilidade, mas nunca me esqueço de que o tenho com alguma sorte, já que há tanta gente com a mesma idade, o mesmo nível académico, certamente tão ou mais capazes do que eu e que são arrastados de trabalho precário em trabalho precário.

Não quero uma casa melhor a troco de que alguém tenha tenha ficado sem teto porque não conseguiu pagar a prestação ao banco. Não quero um carro novo mais barato porque alguém estrangulou as suas margens para conseguir vender.

Quero que a vizinha da pastelaria continue a ter negócio porque as pessoas podem lá ir tomar o pequeno-almoço, quero que o cabeleireiro continue a ter velhotas a fazer a mise todas as semanas, quero que os pequenos negócios que alimentam tantas famílias persistam.

Quero sentir que os preços não são manobrados nos supermercados e ter uma justificação aceitável para o aumento de alguns bens, para o sobe e desce do litro de combustível.

E para um povo com a classe média estrangulada, com aqueles de parcos rendimentos a começar a passar fome, temos um presidente papagaio e um governo em cama de conflito de interesses. Gerir um país numa pandemia seguida de uma crise não é, reconheço, pêra doce, mas agora, mais do que nunca, precisamos que quem está ao leme nos transmita confiança, não pela semântica - estamos fartos disso - mas nas ações, na gestão.
Eu preciso disso, para mim, para o futuro dos meus filhos.
Acho que todos precisamos.

Esperemos que ainda nos reste a empatia pelo outro, que consigamos ajudar quem precisa de comida, que se ofereçam as roupas que já não servem aos miúdos em vez de as vender nas muitas plataformas de vendas em segunda mão. É certo que não ficamos individualmente mais ricos, mas pode ser que assim consigamos evitar que fiquemos coletivamente (ainda) mais pobres.

 

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