Estar calado
Estar calado também é um gesto bonito. Por vezes o mais digno de todos. Por vezes aquele que nos coloca à margem do olhem-para-mim-que-sou-tão-isto-e-tão-aquilo e sinto assim e sinto assado.
Saber estar calado é um dom, mas o silêncio individual não pode ser partilhado e repartilhado, não dá likes, não traz seguidores, não mostra o quanto sofremos com a dor alheia. Não nos deixa segurar a bandeira da justiça digital.
Somos tão tudo antes de ir pôr a sopa a fazer. Numa sapiência suprema de pôr em palavras o que os outros sentem. Um serviço público, se virmos bem.
É por isso que a desgraça alheia vem sempre a calhar, mexe com o bicho da indignação, suporta bem as palavras pesadas, mostra o quanto estamos do lado do bem, punindo-nos pelos males alheios.
Conjuga-se o verbo falhar. Falhámos todos. Eu falhei. Tu falhaste. Pois falhamos. Todos os dias.
Até no segundo em que, com o ego aos pulos, clicamos em "publicar".