Gosto de dar a mão aos meus filhos
<span;>Gosto de dar a mão aos meus filhos. Estou certa de que gosto mais de lhes dar a mão a eles do que eles a mim. O mais velho cedo começou a pedir para andar em mãos livres. Não queria cá amarras de nenhuma espécie. Esta mais nova logo veremos como será. Por isso é nos passeios de carro que aproveito este momento. Ponho o meu dedo na mão dela e espero que o aperte. Vamos ali de dedo e mão dados. Uma mão miniatura. É nesse toque que acalmo os demónios que me fazem cutucar um anjinho que dorme o sono dos justos. Mexo o dedo, ela aperta, eu tranquilizo-me.
<span;>Hoje, ensanduichada entre os meus filhos, no banco de trás do carro, dei com o meu indicador esquerdo a ser apertado pela minha filha e a minha mão direita apertada na mão do meu filho.
<span;>Soube-me bem, nem eles sabem como. É que por esta altura já compreendi que crescem depressa demais, que a mão dele, que um dia foi minúscula, rapidamente será a mão de um homem que chamo à cozinha para dar uma ajudinha à mãe com o frasco das azeitonas que parece impossível de abrir. Já sei que a mão dela, de dedos esguios, que hoje cabe aninhada na minha, não tarda nada será a mão de uma mulher feita, de unhas arranjadas, que me dirá: ai mãe, tenho de te levar à minha manicura que tens essas cutículas que são uma desgraça, parece que andaste a cavar batatas.