Lambadora oscariana
Se vou ser totalmente honesta nunca dei grande importância aos Oscars, da mesma forma que nunca dei grande importância a prémios seja de que estirpe for. É certo que é uma forma de reconhecimento pelo trabalho feito, mas o mais importante aquelas pessoas já têm: fazem o que gostam e são estupidamente bem pagas por isso.
Podem dizer-me: ah, mas alguns tiveram de fazer sacrifícios tremendos. Verdade. Mas fizeram-no por opção, não por necessidade. E de mais a mais, sacrifícios todos fazemos e a maioria de nós jamais terá a possibilidade de ter dinheiro na conta para poder parar de trabalhar anos, escolher o que fazemos, ou ter uma mansão com doze quartos e três piscinas.
A cerimónia dos Oscars nada mais é do que uma sala cheia de pessoas com acesso a todos os caprichos e privilégios, pessoas que ganham num filme o que o comum dos mortais não ganhará em cinco vidas (se as tivesse), pessoas que tiveram equipas de dez ou mais profissionais para as vestir, pentear, maquilhar. Um espetáculo de vaidade onde se escolhem as farpelas mais estapafúrdias para dar nas vistas.
No fim, um punhado ganha um bonequinho careca que pode levar para casa para o meter numa vitrine à qual alguém limpará o pó.
Muitas destas pessoas compreendem que foram bafejados pela sorte. Outros acreditam que se tornaram em algo larger than life. E é quando esta segunda hipótese acontece que chegamos a casos como o de ontem. Em que, um apresentador, comediante, leva uma lambadona por fazer o seu trabalho: dizer piadas. As piadas raras vezes agradam a toda a gente, mas são palavras e as palavras combatem-se com palavras. Eu digo o que quero, tu dizes o que queres e assim sucessivamente. Quando palavras são confrontadas com atos, como uma chapada ou um soco, então há algo de muito errado. Porque a violência física é usada para calar. E ninguém tem o direito de calar o outro, muito menos à pancada. O preço da liberdade é, não só mas também, dar liberdade ao outro até de dizer coisas que não gostamos.
Ainda bem que não fiquei acordada para assistir. Ia deixar-me cheia de azia gastar horas do meu sono para ver gente podre de rica arreliada com piadinhas.
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