Livros de Setembro 2021
Você nunca mais vai ficar sozinha
Tati bernardi
A escrita da Tati Bernardi arrebata-me sempre. A sanidade na loucura, a loucura na sanidade e a gargalhada inesperada. Neste livro são tantos os pontos de verdade que se os fosse sublinhar riscaria todas as folhas. Não tive mãe a vida toda, mas sempre senti (e sinto até neste momento em que escrevo) que sou a eterna filha da minha mãe. O reflexo do que ela criou. Que me condeno por aquilo que ela acharia de errado. Que me engrandeço quando sei que abanaria a cabeça em satisfação. Sou mãe e filha ao mesmo tempo e dou comigo a pensar, tantas e tantas vezes, que, pense o que o meu filho acabe por achar se mim, eu estarei lá sempre, mesmo quando ele não precisar.
Um fogo lento
Paula Hawkins
A vida não são só clássicos e obras que nos questionam o pensamento. São precisas histórias bem contadas com linguagem escorreita e clara. Daqueles que a pessoa consegue ler enquanto toma conta do filho a fazer patifarias sem ter de voltar atrás vinte vezes.
Um livro que se lê num ápice. Bem escrito, bem contado, com as reviravoltas necessárias.
Dos três livros da autora este pareceu-me o mais previsível. No entanto foi uma excelente escolha para leitura à beira da piscina.
A biblioteca da meia noite
Matt Haig
A escrita é clara e agradável, sem malabarismos linguísticos. O autor tem uma mensagem para passar e penso que o consegue.
O conceito essencial da história está na valorização das pequenas coisas e na aprendizagem de que não existe uma vida perfeita.
Gostei da originalidade da biblioteca que permite viver outras vidas.
É um livro que se lê bem. Um bom livro para repensar as pequenas coisas esquecidas. Um bom livro para quando nos debatemos com momentos menos bons e nos deixamos emaranhar pela culpa e por arrependimentos.
Beautifull World. Where are you
Sally Rooney
Há para mim um certo encanto na escrita da sally rooney que me prende completamente. É como se estivesse sentada com uma amiga no café a ouvi-la contar-me o que sabe. E eu ali fico, embevecida, a virar páginas.
A versão em português sairá até ao final do ano, mas ao passar pelo livro não resisti e trouxe em inglês.
Quatro personagens. O que pensam, como agem, os seus sentimentos em relação a si mesmos e aos que mais gostam, as dúvidas, os medos, as incertezas, o receio de falhar com o que são e com o que os outros esperam, os seus pensamentos sobre o mundo que os rodeia, o dissecar da forma perversa como o mundo valoriza o que menos importa.
Vista Chinesa
Tatiana Salem Levy
Tão, mas tão bem escrito que as imagens do que aconteceu estão claras e desagradavelmente vívidas na minha mente.
Um livro que merece ser lido por múltiplas razões: porque a vítima tem o seu tempo, porque o trauma é ultrapassado de forma diferente por cada um, porque a dor não é o que vemos, é o que o outro sente, porque a nossa dor causa aos outros dor, porque não chega encontrar um culpado, é preciso encontrar “o” culpado, porque o que acontece passa a fazer parte da pessoa, acaba inserido no seu quotidiano e nas decisões mais pequenas, mas mais do que tudo porque a culpa nunca é da vitima, já chegam os porquês que carregará para sempre pela certeza de que não é possível reescrever o passado.