Mãe, o que é que tu fazias se tivesses um diamante?
Eu e o meu filho somos assim: gostamos de sonhar juntos. De inventar coisas, de pensar no que a vida pode ser, de encontrar o ângulo engraçado de todas as coisas. Rimos muito, até demais e temos dificuldade em perceber que às vezes tem de ser a sério. A vida não é feita de piadas, mas é mais fácil se fizermos pouco dela.
Fazemo-lo não porque somos mais fortes, mas para escondermos as nossas fragilidades.
Ontem, enquanto me ajeitava na cama dele para lermos umas páginas em conjunto antes de dormir perguntou-me: mãe, o que é que fazias se tivesses um diamante?
E eu disse-lhe que se tivesse um diamante daqueles que valem mesmo dinheiro a valer, dos que se vendem por muitos zeros, que o vendia logo. Não sou apegada a pedras e não vejo razão para ter uma pedra brilhante que mal sei distinguir de um pechisbeque qualquer.
E fazias o quê com o dinheiro? Quis saber.
Se tivesse um diamante daqueles que valem para cima de um milhão comprava uma vivenda. Comprava uma vivenda com jardim, piscina e escolhia num sítio em que houvesse praia perto, com exposição solar cinco estrelas. Para secar bem a roupa. Porque a pessoa apesar de ficar milionária com a venda de um diamante continua a ter preocupações comezinhas, já que a vida quotidiana não se faz sozinha. Comprava outro carro, elétrico, mas ficava com a nossa carrinha na mesma, porque gosto dela e me deixa triste desfazer-me de quem há mais de cinco anos me leva a todo o lado. O resto do dinheiro poupava. Calculava bem os custos para que durasse bastante e para que nunca me faltasse a rede de segurança. Para que pudesse repensar a minha vida profissional e não voltar a trabalhar oito horas por dia. No máximo quatro.
Ou seja, depois da casa e do carro comprava tempo. Tempo para ir buscar o miúdo à escola e almoçar com ele. Para poder sentar-me a escrever sem ser com um olho fechado porque está na hora de ir para a cama ou depois do pequeno almoço de domingo, mesmo como quem escreve para atrasar a tarefa das limpezas. Tempo para ler, para fazer exercício, para passear os meus cães sem estar sempre a olhar para o relógio. Tempo para ser gente e não escrava dos afazeres. Tempo para não ter de estar sempre a dizer: olha as horas.
E tu, o que é que fazias se, de repente, tivesses um diamante daqueles que valem mesmo dinheiro a sério?
Instagram aqui.
Goodreads aqui.
Newsletter aqui.
Podcast aqui.