Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Exercício de escrita

Não

11.10.22

Sempre tive facilidade em dizer não a pessoas de que não gosto, a pessoas que não sinto que me façam falta, a pessoas pelas quais não tenho qualquer respeito intelectual.

Sempre tive particular dificuldade em dizer não a pessoas de quem gosto, a pessoas cuja aprovação procuro, a pessoas cuja capacidade intelectual me encanta de tal forma que sinto que dizer não é ficar aquém, falhar.

Nunca tive uma relação saudável com o não. Hoje sei que assim é porque sempre o geri como sendo uma palavra dos outros, com impacto para os outros. Não é.  É uma palavra minha, que deve ser gerida em função dos meus limites, daquilo que sou, do que quero, do que aceito, de onde estou disposta a ir.

Quando o Ricardo nasceu aprendi a usar o não sem remorsos. Um não assertivo para todos, menos para ele. Para ele guardei o não com culpa, o não da mãe insuficiente, o não que pesa, o não da frustração.

Com o nascimento da Inês percebi, mais uma vez, que tenho dificuldades em usar o não. Tenho remoído este assunto. Assim tem sido porque há solicitações de todos os lados, porque temos de dizer que não a um filho, amanhã a dois. Também por eles, mas acima de tudo por nós, pela nossa sanidade, para que cheguemos à velhice sem ressentimentos porque os filhos isto e eles os pais aquilo. Tenho sentido uma necessidade imensa de dizer não. Um não que não carrega a pena ou uma empatia palerma ou a necessidade de explicar e quase justificar as minhas escolhas.
Os pais do meu tempo rir-se-iam ao ouvir alguns destes esclarecimentos-justificação.

Na primeiras duas semanas enquanto mãe de dois, dona de três cães, pessoa com tudo para ficar tantã; nas primeiras duas semanas ia perdendo os berlindes. Depois decidi que o não ia ser o meu melhor amigo e que ia usá-lo sem medo e sem culpa. Sei que não digo que não só por dizer. Tem havido alguma estranheza nos recetores, mas a minha cabeça está mais limpa e não se sente obrigada a pensar mais no que os outros querem do que naquilo que eu preciso.

No fim noto que o que me poupo em desgaste me deixa ser uma pessoa mais leve e que está mais inteira quando e onde preciso de estar.

 

Podem subscrever a minha Newsletter "Autoterapia" aqui.