O flagelo do interruptor
Sigo algumas páginas de maternidade e não sigo mais porque lamentavelmente não vejo alguns dos verdadeiros flagelos da parentalidade a ser abordados. Falam da gravidez, da amamentação, de violência obstétrica, mas não vejo uma alma a falar da calamidade dos interruptores.
Isso. Leram bem. Vou pôr a minha unha mal amanhada na ferida e falar das luzes que ficam por apagar.
As crianças são com os pirilampos: deixam um rasto de luz por onde o rabo passa. E é impossivel fugir ao desespero e à conta da luz.
Não tenho como saber o que acontece nas outras casas onde reina o amor com cheiro a algodão doce e sabor a caramelo salgado dentro de prazo, mas eu passo o dia a assinalar o estado da iluminação das assoalhadas: luz da casa de banho ligada, a luz do quarto ainda está ligada, a luz do escritório ficou acesa, e por aí em diante. Pareço a voz do intercomunicador do prédio que insiste em descrever o evidente: a porta está aberta, a porta está a fechar, a porta fechou.
Sinto que estou a falhar ao ambiente, à EDP e acima de tudo à minha carteira.
É como se as falangetas do menor ficassem em chagas sempre que se aproximam do dispositivo que permite gerir a iluminação, mas se é alergia é muito seletiva porque só tem efeito à saída.
As vezes toma conta de mim uma imensa vontade de arranjar uma fisga para lhe acertar com ervilhas congeladas lombo.
Convenço-me que há mais pessoas desesperadas por esse mundo fora e que precisamos de um grupo, tipo interruptores anónimos, para que possamos desabafar a nossa dor.
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