Quinze
Se for para andar à pêra chamem-me que eu apareço, agora se for para ver os meus filhos a ser vacinados não contém comigo que eu não tenho estofo para isso.
Embrulham-se-me as entranhas ao vê-los a ser picados uma e outra vez. No fim com as perninhas gordas a parecer cadernetas de cromos, cheias de pensos coloridos. Se não estiver a pensar que aquilo os salva de coisas terríveis, pego neles e corro hospital afora como uma maria ensandecida.
Choro. Choro muito. Vou logo avisando a enfermeira que choro mais do que a bebé. Da primeira vez foi pior, tiveram de me pedir amavelmente para sair da sala de vacinação. Desta vez já fui uma crescida, fiquei a um canto a verter tanta água dos olhos que mais parecia que alguém tinha feito um furo numa barragem. Comporto-me de forma infantil, o pai segura, a enfermeira dá as vacinas e eu depois pego na bebé e faço aquela cara de quem diz: pronto, a mãe agora não os deixa fazer mais mal.
É vergonhoso. O nível de palermice a que uma mãe chega.
Dou por mim capaz de pedir que a enfermeira me inocule o lombo todo para que não tenha de o fazer à bebé. Ela tem de levar 4? Dê-me a mim 12 e não se fala mais nisso. Deve passar no leite.
Se eu mandasse no universo e no cosmos e nessas coisas todas, as crianças só levavam vacinas a partir dos 14, que é quando já estamos mesmo fartos da merda que dizem e nessa altura já nem rezamos por uma enfermeira doce e meia, compramos e administramos em casa mesmo, de preferência entre os olhos.
Sodona imperatriz Inês foi hoje à vacina. Eu estou a gerir a minha ansiedade, a minha hipocondria e o meu stress pós-traumatico. Estou a vê-la dormir na alcofa, piscando a baixa velocidade, numa concentração de segurança privado treinado pela mossad, à espera da pior das meliantes - a febre - pronta para lhe dar um sopapo de paracetamol no focinho.