Sete
O meu corpo deu-me dois filhos maravilhosos. Como se isso não bastasse lava-me a sítios. São estas duas perninhas com celulite, derrames e varizes que me levam aqui e ali, são elas que carregam comigo escada acima, escada abaixo para laurear a pevide. E o que eu gosto de andar no arejo. São estas costas forradas com uma camada de bacon que alombam com os meus filhos bebés. São elas que, com ou sem dores, se aguentam para dar o ninho que eles precisam para se sentirem seguros. É este corpo com quase quarenta anos que leva com as minhas decisões, boas e más, e já o Variações dizia: quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga.
É este corpo, que me permite fazer todas estas coisas, que se espera que eu rejeite porque não cabe nas calças da moda, porque enrola a blusa da estação no pneu que tenho à volta da cintura.
Já lutei muito com o meu peso. Já fiz dietas, já fui certinha no ginásio, já estive menos resolvida comigo por causa dele.
Estabelizei numa relação nem sempre equilibrada em que fui aceitando o que tenho sem nunca estar totalmente satisfeita.
Hoje, ao experimentar roupa no provador, trazendo comigo um dos poucos pares 42 que havia ao dispor, dei comigo a pensar como é que este meu corpo, que não está uma perdição de volume, precisa de um 42 para o vestir.
Não me sinto bem assim, mas aceito melhor e agradeço a estes braços gordos tudo o que têm carregado por mim. Neste momento, com a maturidade que se espera da experiência e da idade, já sei bem que ter os pirolitos alinhados na tola e bem mais satisfatório do que caber num 36 mal medido.
Hoje comprei umas calças de ganga. Que se lixe o número que lhe taturam, só importa que tenha tecido que chegue para este corpo que trago comigo, o resto é conversa.