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A minha licença acaba hoje. Enquanto me preparo para dedicar o dia a este rame rame de beijos e abraços intercalados por três ou quatro tarefas domésticas, não consigo deixar de concluir que a minha vida nos últimos anos se tem resumido muito à expressão "de repente". De repente o meu filho nasceu. De repente começou a comer sopa. De repente começou a andar, a falar, entrou para a pré, começou a reclamar, comeu o primeiro gelado sozinho, aprendeu a nadar, entrou para a escola, aprendeu a ler, passou a ler sozinho antes de dormir e já diz "tipo", "literalmente" e "basicamente" à razão de 3 vezes por cada argumento. De repente fui mãe pela segunda vez. De repente estava em casa com ela. De repente já palra, ri, brinca, segura a própria cabeça e daqui a dias vai comer a primeira sopa. Tudo parece ter acontecido de repente. Mal tive tempo de absorver todos os detalhes.
Estou certa de que, depois de ter sido mãe, o tempo passou a ter menos tempo. Os ponteiros apressam-se no relógio e eu dou comigo a comprar roupa para alguém que daqui a 30 centímetros é maior do que eu.
Ele já lê para ela e ela ouve-o embevecida.
Ontem foi há quase 8 anos.
Sempre me queixei de não ter tempo para nada. Depois de ter filhos percebi que tinha tempo para tudo. Até para mim. Podia dar-me ao luxo de fazer uma coisa de cada vez.
Agora o tempo não anda, não corre, voa. Vai a jacto. Parece estar sempre em contra-relógio, afoito para os fazer crescer. E eu para aqui fico neste misto de saudades do tempo em que tinha tempo para mim e nostalgia por saber que o que vivo hoje não tem preço e não volta a acontecer.
São clichés, eu sei. Lugares comuns, é certo. Mas é aqui que estou.