Vinte e seis
Se dependesse do meu filho a gente clicava duas vezes no pinheiro e a árvore ficava montada. Depois era só pôr a estrela, acender as luzes e voilá, feito. Assim despachava-se esta chachada e sobrava mais tempo para cartas Pokemon, decorar bandeiras de países e saber curiosidades geográficas. Por exemplo, sabiam que se juntarmos todos os países do mundo a área ocupada é inferior à superficie do oceano pacífico? Não? Pois, eu também não sabia até ter chegado à terceira bola da árvore. E não se iludam, eu adoro que ele tenha estes interesses e os partilhe comigo. Menos quando estou a gastar 2 horas dos 365 dias do ano a montar o pinheiro de natal. Nessas 2 horas só quero saber de luzes e bolas.
Se dependesse de mim a árvore montava-se sempre com muita calma. Primeiro ajeitando a estrutura do pinheiro, depois ajustando os ramos, colocando as luzes na "parte da frente" (a parede não me parece que vá apreciar o pisca pisca), parando a cada bolinha para ver onde é que faz falta mais cor e assim por diante. Quem sabe até com umas musiquetas de natal no fundo.
Ora esta diferença de abordagem gera algum desaguisado e, sendo eu uma pessoa cansada e ele um jovem com um lombo tenrinho, sou eu que fico com a superfície ocular toda nervosa.
Ele partiu uma bola daquelas que parecem ser feitas de vidro. Eu comecei a estrilhar e depois deixei cair outra igual. Ele riu. Eu sou capaz de ter deixado sair um "pu...da bola" que ficou ali preso nos dentes como um bocado de alface.
Acabaremos o trabalho hoje, porque eu ontem estava capaz de dar machadadas ao pinheiro.
E é assim, um relato nada condizente com as redes sociais, em que as crianças são sempre pacientes, pairando em movimentos em câmara lenta, sempre com um sorriso meloso, sábias do sítio certo para cada decoração, quem sabe vestidas com suspensórios cheios de renas e incapazes de tentar pôr 3 bolas em cada ramo para andar com o assunto porque há mais que fazer.