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Exercício de escrita

A escolha para Bruxelas

03.08.22

Fui ler as 3 primeiras páginas do tão magnífico livro que vai embevecer Bruxelas. Fiquei tão consternada emocionalmente, que quase estive para escrever Bruxelas com ch. Depois passou-me.
Em três páginas temos o corriqueiro inverosímil de quem conversa com uma criança que não quer brinquedos da Patrulha Pata ou um jogo da porquinha Pepa, ou uma Playstation, ou está sequer danado porque lhe cortaram o acesso ao YouTube. Uma pessoa lê aquelas páginas e pensa: ora aqui está um diálogo que eu teria com nenhuma criança que eu conheço. Faz sentido.
É a lamúria de que a felicidade não tem preço e o que conta são as pequenas coisas e rrrrrrrr... estou quase a adormecer. O dinheiro não compra felicidade e blá blá blá. Só compra cuidados de saúde no privado quando o SNS fecha serviços. Mas isso é outra matéria.
Diria que se percebe desde a primeira letra que é uma obra-prima. De facto emergente e inédita na sua abordagem.

Dito isto, o autor é alheio à escolha. O autor escreve o que acredito que corresponderá ao seu conceito de arte e ao que gosta de ler.
O que eu não entendo é como, num país em que se consome mais do que se pode, numa sociedade em que se vai para supermercados no natal raspar prateleiras para comprar mais com desconto, em que se estaciona nos lugares de pessoas portadoras de deficiência, onde se faz vista grossa às grávidas nas filas de supermercado, onde não se usa o bom dia e boa tarde como cumprimento e educação básica; como é que nesta mesma sociedade se vive um encanto tão acérrimo com as coisas puras e simples. Imagino o cenário em que a sogra oferece à nora A raridade das coisas banais, porque o que interessa é o calor cá dentro e depois passa a ceia a afinfar na moça porque bacalhau está salgado, as couves mal cozidas e o filho tinha casado bem era com a Belinha que estudou para médica, ganha bem e tem uma vivenda para os lados de Palmela.

 

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