Às vezes o problema não são os outros, somos nós.
Às vezes o problema não são os outros, somos nós. Somos nós que: não sabemos dizer não vezes que cheguem, que nos multiplicamos para fazer vontades, que ouvimos quem não nos ouve, que damos valor a quem não interessa, que fazemos mais do que temos de fazer para que nos tenham em melhor consideração, que ajustamos a nossa vida em função de terceiros que não valem assim tanto, que procuramos validação sem percebermos que o estamos a fazer, que fazemos dos gostos dos outros os nossos para sentir que fazemos parte, que nos entregamos a amizades tóxicas para não nos acharmos sozinhos e com isso acabamos mais vazios do que se não estivéssemos ao lado de ninguém, que dizemos que sim ao que não nos apetece, que vergamos as nossas perceções, que nos ajustamos à procura de fazer parte de um todo que nos rejeita sempre que não lhe interessa. Somos nós que nem sempre conhecemos os nossos limites para que os possamos desenhar numa cor que só nós conseguimos ver, mas que os outros acabam por entender. Porque somos nós que temos de nos conhecer, somos nós que temos de dizer o que aceitamos, o que não toleramos, o que não admitimos e o que é a gota de água.
É fácil escrever estas frases, porque a teoria, refletida num punhado de palavras que se juntam na sequência certa, faz sempre sentido. É levar a cabo no dia a dia que custa. Mas tem de ser, porque como já dizia o leite Se eu não gostar de mim, quem gostará? E é verdade. Começa no espaço pequenino que os nossos pés ocupam.