Livros de agosto
Materna doçura, Possidónio Cachapa
Foi o primeiro livro que li de Possidónio Cachapa. Gostei tanto da escrita. Da forma verdadeira como são relatadas as conversas, com respeito pelo que acontece na realidade ao invés de subverter as palavras ao que seria correto de dizer mas que sabemos que, no corriqueiro mundo banal não acontece.
Gosto de saber dos personagens, do que pensam do que sentem, do que lhes acontece sem que a narrativa se perca em descrições espaciais e detalhes que enchem texto e pouco acrescentam. Este livro é mesmo assim, concentrado nas pessoas, nos azares e contratempos que ditam as vidas em vez da cega ideia de que conseguimos moldar tudo.
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Toda a gente nesta sala um dia há de morrer, Emily Austin
É uma história engraçada, escrita de forma peculiar (com que simpatizei). Entretém.
É aquilo a que se pode chamar de uma leitura suave, boa para as alturas em que a cabeça está menos disponível. Está giro, mas não é um livro do caraças.
Penso desta forma porque me parece que a autora quis muita coisa numa história não particularmente longa, onde "bica" em vários assuntos, mas não explora verdadeiramente nenhum. Orientação sexual, saúde mental, desequilíbrio familiar, alcoolismo, crenças religiosas, eutanásia. Tentou que se misturasse sarcasmo com seriedade a espaços, mas fê-lo sempre com aparente receio de ferir as vozes sensíveis que andam de cadeias às avessas com a linguagem e a semântica.
A ideia está boa, tenho pena que não tenha sido explorada de outra forma.
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O efeito das expectativas, David Robson
Precisei de alguns dias para escrever a minha opinião sobre este livro. Foram várias as fases por que passei enquanto o li. Não é um livro fácil de ler, na medida em que, para o ler, aprender e repensar a minha abordagem, questionando sempre o que me está a ser apresentado (não aceito tudo só porque foram feitos estudos, é preciso ter presente que estes podem sempre ser enviesados) é preciso estruturar a nova informação e compreender em que medida se pode aplicar a mim.
Houve capítulos em que me revi mais, outros em que considerei que porventura a abordagem pode ser um pouco inocente, na medida em que, por mais estudos que se façam, é impossível replicar a realidade e todas as variáveis, tão distintas, que afetam a vida de cada pessoa.
Não obstante, o conceito - referido inúmeras vezes pelo autor como não sendo uma panaceia - faz sentido. Se olhar para a minha vida e para momentos da vida de pessoas que me são próximas, consigo compreender que a forma como encaramos e nos preparamos para a vida (mesmo que costumeira) e para os desafios, tem, efetivamente impacto no seu desfecho, na minha perceção quanto às minhas capacidades.
É um livro interessante, com uma abordagem que procura ser honesta, que desafia o leitor a pensar sobre si, sobre a sua realidade, sobre a sua forma de avaliar as suas capacidades, sobre aquilo que pode investir e melhorar para chegar - gradualmente, com disciplina e paciência - a ser aquilo que, acredito, todos procuramos: ser uma melhor versão de nós próprios.
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Três mulheres no beiral, Susana Piedade
Sem dúvida um dos melhores livros que li este ano. Não conhecia a Susana Piedade, comprei o livro num impulso porque gostei do título e da sinopse. Gostei mais do que estava à espera, porque fiquei embevecida com a escrita e com a história tão verdadeira, tão humana, tão palpável. Qualquer dos personagens poderia ser uma pessoa que conheço e fiquei, de facto, com a sensação de que as conheço.
Este livro foi finalista do Prémio Leya de 2021, pelo que assumo que, para que não tenha vencido, o livro que ocupa o primeiro lugar deva ser um verdadeiro assombro.
A autora tem mais dois livros editados, sendo que o primeiro foi, também ele, finalista do Prémio Leya (2015) e conto lê-los em breve.
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O perfume das flores à noite, Leila Slimani
Adorei ler O país dos outros, um livro tocante e maravilhosamente bem escrito. Talvez por essa razão esperasse mais deste O perfume das flores à noite. Gostei da escrita, sempre tão rica, gostei dos momentos de introspeção e de maior intimidade onde a autora nos deixa espreitar um pouco para como a sua mente funciona, o que me perdeu foi a mística gerada em torno do processo de escrita. Compreendo que o processo de criação seja diferente para todos, mas não me convence a ideia de que um escritor sofre mais ou abdica de mais do que qualquer outra profissão onde a excelência se procura. Não creio que abdique mais do que um médico de renome, um atleta de alta competição, um ator que dá voltas sobre si mesmo para interpretar um personagem.
É um livro bonito, fora da ficção, que se lê num sopro, mas que não me convenceu como os demais livros da autora.
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O chão dos pardais, Dulce Maria Cardoso
É impossível ignorar a qualidade da escrita de Dulce Maria Cardoso. Provavelmente uma das mais brilhantes escritoras do nosso tempo.
Uma família de aparências, que manobra e manipula quem consegue. O ser humano que se deixa corromper e molda o seu caracter ao estatuto.
Uma história muito bonita, escrita na terceira pessoa (o que é menos característico na escrita de Dulce) e que merece muito ser lido.
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