Trinta
As crianças são o melhor do mundo, excepto nos feriados e fins de semana. Nos outros dias, depois de sairem para a escola, são os anjos mais puros que o universo inventou.
Aos feriados a criança é um bicho que avaria, fica com a centralina desregulada e acorda antes das seis, alegre, repleta de euforia, com vida em excesso e uma capacidade excepcional de fazer com que os adultos percam toda e qualquer vontade de viver.
Eu, por exemplo, nestes dias de descanso, entre as 6:30 e as 8 da manhã debato-me seriamente com a possibilidade de os dar para a adoção. Mas depois faço contas, vejo o que já gastei, reconheço que até lhes tenho algum apego e acabo por ficar com eles. Maioritariamente, devo confessar, porque daqui a uns anos vou precisar de alguém para me pagar o lar e não me apetece deixar a casa ao Estado.
O meu filho acordou às vinte para as sete a perguntar porque é que ainda não estavamos levantados. A minha filha, ouvindo o irmão e aparentemente concordando, desfiou um rol de vogais e consoantes avulsas. Eu, depois de conseguir abrir os dois olhos, fiz panquecas e aturei o meu marido que achou um luxo comer doce Prisca de 3,99€.