Trinta e um
Os meus filhos são de gargalhada fácil. O Ricardo sempre foi um miúdo risonho, desde bebé. Dobrou o riso cedo. Ria a dormir e ainda hoje me acontece acordar a meio da noite com as gargalhadas dele durante o sono.
A pequena Inês vai pelo mesmo caminho. Espanta o pai - esquecido já dos tempos do primeiro bebé - com o seu acordar bem disposto, sempre de gengiva à mostra.
O meu filho faz pouco de mim e do mundo, procura piadas em tudo. Gosta de rir e tira uma verdadeira satisfação em ver que conseguiu esse momento de alegria no outros, aquele alívio que descontrai uma sala como só uma gargalhada com vontade consegue fazer.
Há dias, muito chateada e a ralhar com ele, saiu-me um: mas tu estás maluco ou quê?
Depois, sempre arreliada com a possibilidade de o traumatizar, de o deixar por demais triste, de colocar em causa o tanto que gosto dele, quando chegou da escola pedi-lhe que se sentasse na sala, queria falar com ele. Disse-lhe que estava muito aborrecida e que tinha dito algumas palavras sobre as quais me queria desculpar. Ele olhou para mim surpreso e disse: eu é que peço desculpa, não me consigo controlar com algumas coisas que dizes.
Aparentemente o que me preocupou a mim, divertiu o meu filho, que calha a achar que eu pareço um Pokemon em evolução quando começo a estar descarrilada. Então dou-lhe graça.
Dei comigo a recordar um episódio antigo. Há uns anos, de férias em Albufeira, pediu para que lhe comprassemos uma pulseira com pedrinhas a dizer o nome dele. Acedemos. A senhora estava a acabar de compôr a pulseira e ele pediu-nos para adicionar a pedra do emoji feliz. Perguntei-lhe porquê, ao que ele respondeu: porque sou feliz, um menino feliz, o Ricardo feliz.
E eu, tal como agora, tive de me conter para não verter algumas lágrimas de alegria.
Meu rico menino.