Tudo bem?
Há um acordo tácito para aquilo que se espera de resposta à pergunta de cumprimento trivial: então, tão tudo bem?. Este acordo vive entre as pessoas que têm os berlindes todos alinhados na tola e que têm mais do que fazer. A pessoa cumprimenta e depois pergunta se está tudo bem, ou então, para aqueles mais despachados é só assim um piscar de olho e: tudo bem? Assim mesmo em andamento, que é para não perder muito tempo. Por exemplo uma pessoa está a cruzar-se com outra enquanto uma enta entrar do elevador e outra está a sair. Uma diz: tudo bem? A outra: tuuuudo. E está feito.
Dentro do elevador, entre o desconforto da chegada ao andar desejado. Uma diz: tudo bem? A outra: tudo e contigo?
Quando a pergunta é feita há, no máximo, meia dúzia de respostas possíveis: 1) tá tudo e contigo; 2) tuuuudo; 3) nada (porque a pessoa já bazou); 4) tudo andar; 5) tudo fino; 6) cá vamos andando. A opção 6 já denota alguma tristeza o que ajuda quem questiona a fazer uma curva sinuosa na conversa para garantir que não vamos enveredar pelos problemas pessoais.
O pai, o tio e o irmão da pessoa podem ter morrido drasticamente atropelados por um Smart desgovernado. O papagaio pode estar com uma hérnia discal e um raio pode ter acertado a pessoa no alto da pinha a caminho do emprego. O que se espera da pessoa é que, na pior da hipóteses, devolva o cumprimento com um: cá vamos andando.
Por alguma razão que lamento profundamente a minha capacidade de resposta para esta pergunta tem fugido ao meu controlo e dou com a minha boca a mexer-se para dizer mais coisas do que o meu interlocutor – obviamente – desejava saber. Por alguma hecatombe interna, o meu cérebro, quando face a este tipo de questão, acha que está no direito de ocupar o tempo alheio com as minhas questiunculazitas e dou comigo a falar até conseguir ver a vida apagar-se nos olhos da outra pessoa. Que é mais ou menos quando a pessoa suspira e olha para os pés ou quando olha à volta com aquele ar de socorro de quem pensa: ó crálhe, atão mas esta agora!
A minha parte racional fica aprisionadas enquanto uma outra fação libertina discorre sobre enjoos e desconfortos para apertar sapatos.
Desta feita gostaria de dizer que: a gerência pede desculpa por esta inconsistência técnica momentânea e garante que os técnicos estão a fazer todos os possível para recompor o equilíbrio neste ambiente hormonal hostil.