Um passeio no jardim
Poucas coisas na vida igualam o bem estar e a serenidade de um passeio ao ar livre. Estar no meio da natureza, em simbiose com os aromas das árvores e das flores. O ar puro. Fazê-lo com os meus filhos eleva a fasquia a outro nível.
Sinto que em vez de estar em sintonia estou a marrar com os campos. Assim como quem bate com o focinho numa colmeia e é perseguido pelas abelhas por três quilómetros enquanto elas lhes picam a mona até à exaustão. Levar os meus filhos comigo é como levar um belo e majestoso pica pau que me fornica a massa cinzenta até ao estado de iogurte batido.
A trotinete está avariada. Posso saltar dali? Quero ir ver os patos. Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo. Atão e a minha trotineta? Não cabe o meu pé na trotineta. O chão está muito a descer. Porque é que põem calçada aqui? Aqui é a subir, custa mais. Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo.
Mãe, olha para mim. Mas olha-olha-olha-olha-olha. Já olhei. Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo. Acho que não viste vou fazer outra vez. Mãe, caí. Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo.
Não te metas à frente das bicicletas. Encosta-te à direita. Olha o senhor. Não venhas com isso para perto das minhas pernas. Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo.
Posso ir ver os patos? Posso ir ver a placa dos animais? Posso ir saltar daquelas pedras? Posso descer daqui. Posso ir ali ver aquilo? Uéééé Uéééé. Pronto, pronto. Colo.
No fim o meu filho disse-me: adorei este passeio. E tu, mãe?
Na ótica de quem deseja falecer de forma fulminante atingido por um raio no alto da pinha, também gostei muito.