Vamos falar da semana antes de entrar de férias.
Vamos falar desse fenómeno do entroncamento. É uma porra saída das catacumbas do triângulo das Bermudas. Porque não há explicação possível. A semana de trabalho antes de entrar de férias é sempre um inferno cheio de enigmas, ratoeiras e rasteiras. Não há merda que não aconteça. É o computador que vai abaixo, é o Jorge Miguel da Logística que tem uma questão com o ar condicionado, é o Juvenal da contabilidade que não entende uma fatura e a gente nem sabia que o Juvenal trabalhava na contabilidade e passam-se ali vinte minutos stressantes numa chamada em que se pensa: porque raio é que o Juvenal me está a ligar por causa de uma fatura? Quem é o Juvenal, mesmo?
Os empecilhos aparecem como nenúfares de poia pestilentos que despencam do céu apontados em voo picado diretamente à mona da pessoa. Parece o Matrix dos Jogos sem Fronteiras, mas e o Eládio Clímaco.
Há sempre alguém que precisa de falar urgentemente com uma pessoa, exatamente nas últimas quatro horas do dia quando o tempo estava - de acordo com todas as dicas de organização dos livros mais vendidos – bloqueado como inegociável para que não ficassem quaisquer pendurezas. Durante os últimos três meses em que a pessoa está ali dia após dia disponível, sem se ausentar mesmo em cenário de diarreia severa, nem uma palavra. A pessoa vocaliza um: vou estar de férias para a semana e a aflição instala-se. Às vezes ainda penso: será que é pré-saudade? Ansiedade de separação? Mas não, é outro acontecimento inexplicável. Não só irrita como perturba, causa um agastamento que depois se concentra no estômago e congemina úlceras tramadas. A pessoa vai estar cinco dias fora e que a pessoa vai estar fora sete meses ou que vai tirar uma licença sabática por um ano para ir para a India descobrir a alma e o equilíbrio interior. A pessoa entra de férias a precisar de ir de ir de baixa para depois estar mentalmente sã para ir de férias.
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